Montes Claros
Minas Gerais - Brasil
2018


PREFÁCIO

Dizem que quando reformamos nossa casa, reformamos também a nossa alma. É o que esperamos que nos aconteça ao final dessa peleja. Há um bom tempo que estamos reformando a nossa, e o mais complicado é que a tal reforma está acontecendo com a gente dentro dela. Verdadeira prova de fogo, um grande teste de paciência e de resistência.

Os inconvenientes do quebra-quebra são de enlouquecer até mesmo o mais santo dos homens ou a mais santa das mulheres. Barulho, poeira, caliça, descômodo. . .E o mais terrível da lista, em nossa situação: falta de privacidade. Oh! Meu Deus! Tire-nos o sol e a lua, mas não nos tire a privacidade.

Contudo, é dessa forma que ultimamente estamos sobrevivendo, como em um grande acampamento, vivendo no improviso: lona preta delimitando espaços, cobrindo móveis, anoitecendo tudo.

Em meu quarto, entrincheirada, ouço o barulho ensurdecedor do telhado sendo removido. Os ruídos onomatopeicos sobre a laje exasperam-me.

Em meio à luta, refugiada em minha cama, tento relaxar. Em minhas mãos, VIVÊNCIAS, o décimo quinto livro de autoria do confrade Wanderlino Arruda, professor, escritor, advogado, pesquisador, jornalista, artista plástico, poeta.


Esse homem de mil e um ofícios, convidou-me para prefaciar este seu livro. Convite indeclinável que aceitei com prontidão e alegria.

VIVÊNCIAS chegou até a mim em boa hora, veio em meu socorro no campo de batalha em que fora convertido o meu antigo doce lar.

Uma obra carregada de espiritualidade e lirismo, que se tornara meu refúgio, meu passaporte para o reino encantado das metáforas.

O livro é composto por setenta poemas, versando sobre variados temas.

Trancafiada entre as quatro paredes do meu quarto, li a majestosa obra de Wanderlino Arruda. Li-a e reli-a com extremado carinho, sem pressa, para prolongar ao máximo o meu deleite; tal qual uma criança ao degustar o chocolate de sua preferência.

Entendo que uma das funções da poesia é a de ampliar o nosso olhar e o nosso sentir. O poeta é um ser perplexo, um questionador, um ser inquieto que usa as palavras com total imprevisibilidade, atribuindo-lhes infinitas possibilidades de forma, de escuta, de significado; expandindo, com criatividade, sua paleta de cores.

Acredito que a intenção primeira do poeta Wanderlino Arruda foi mesmo a de provocar emoções, despertar sentimentos diversos, sensibilizar-nos.

Na verdade, não cabe a mim, tampouco ao leitor, analisar os poemas, cabe a nós senti-los em toda a sua extensão, em toda sua essência.

Seus versos, livres das peias da métrica e da rima, são soberbamente melódicos, sonoros, envolventes.

Em VIVÊNCIAS, o poeta pinta poesia com as pinceladas alegres, joviais e sugestivas de seu viver apaixonado.

Wanderlino nos oferece um primoroso banquete, onde nos deliciamos com o sabor predominantemente lírico dos seus versos. Neste banquete, a principal
iguaria servida é o amor. Amor a Deus sobre todas as coisas, amor à vida, à natureza, às pessoas, a lugares. . .

Amor a Olímpia Arruda, sua musa inspiradora, sua esposa, mãe de seus filhos, avó de seus netos, bisavó da sua bisneta americana, Clara Star. Olímpia, a deusa morena, dona dos mais belos e verdejantes olhos. Em sua
homenagem é a maioria de seus poemas. Magnetizado pelo “olhar de pura esmeralda” é que o vate canta:

“Teus lindos olhos,
vívidos e esplendentes,
espelham um íntimo
de majestade.”

Em sua lírica, plena de intertextualidade, o poeta dialoga com os Cânticos de Salomão, e nos envolve com belezuras múltiplas:

“Explodindo meu amor,
se não o sabes,
oh mais formosa das mulheres,
oh mais linda e minha:
é entre o translúcido
do mais puro mel,
que apascentas os cabritos,
até os limites da tenda
deste teu alegre pastor.’’

Travestido de pastor, o poeta continua exaltando a beleza de sua amada Sulamita:

“Às poldras do carro do Faraó,
às graciosas sílfides do amor,
te comparo, te vejo
e sinto, oh querida minha,
oh encanto de mulher-menina.”

E o bardo não para por aí, a abundância de amor vai tomando dimensão do infinito:

“O encanto de teus olhos
mostra cores de intensa luz
e brilho de sétimo céu...
O encanto de teus olhos
é multidão de mil momentos,
majestade clara, esplendor divino!”

Sentimos, assim, que a maior vocação do poeta Wanderlino é amar.

“Amar, amar muito.
Amar todas as horas
amar sempre e sempre.”

Em VIVÊNCIAS, deparamos com versos altamente filosóficos, como no poema “Capelo Gaivota”. Nele, o poeta afirma categórico:

“Gaivota que realmente se preza,
tem de sentir as estrelas,
analisar paraísos,
conquistar múltiplos espaços.”

Concluindo, lindamente, que:

“Se o destino é o infinito, o caminho tem que ser nas alturas!”

Wanderlino Arruda, como um ser espiritualizado, homem de muita fé, certeza de Deus, a Ele entoa os mais sinceros louvores.

“Senhor, em todo o tempo,
o louvor estará em meus lábios.
Procurarei a paz, buscá-la-ei
empenhado por alcançá-la.”
(. . . .)
“Certificando-me sempre,
alegrando o coração,
exultando de espírito,
meu corpo repousará,
entoando-te hinos.
Entregarei o meu caminhar,
salmodiando e cantando louvores.”

Wanderlino Arruda é poeta por inteiro, sem cheiro passadista, um domador de palavras no seu próprio tempo...
Sua tessitura poética é impregnada de jovialidade, fluida, de bom perfume. É saborosa. É saborosa como:

“Chupar manga rosa no pé
Comer pêssego maduro
e... sonhar acordado.”

A poesia de Wanderlino, em síntese, é o reflexo de si mesmo, de suas VIVÊNCIAS. Agradará aos ouvidos e ao coração das pessoas sensíveis, que pensam, que sentem com a alma, e que amam o belo e o bom.

Sua obra poética é pura sinestesia. Tem gosto de nuvem, aroma de amor, verdadeira ambrosia.

Como flecha de cupido, acerta em cheio o nosso coração.

Amor-poesia ou poesia-amor, eis o que encontrará, caríssimo leitor, nas páginas deste livro. Acomode-se. Aperte os cintos e ...

Boa viagem!

Dóris Araújo
Academia Montes-clarense de Letras
Academia Feminina de Letras de Montes Claros
Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco
IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

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