Prefeitura Municipal de Itacambira

Prefeito
José Francisco Ferreira

Vice-prefeito
João Manoel Ribeiro

Secretaria de Turismo e Cultura
Antônio Neto da Silva - Secretário

Suporte Logístico
Vanusa Alves da Costa Ramalho
Joaquim Magno Miranda
Antônio Amaro Bicalho
Ilma Ramalho Ferreira

Suporte Acadêmico
Wanderlino Arruda


 

Copyright by © 2014
Dário Teixeira Cotrim

Permitida a reprodução total ou parcial deste livro sob qualquer forma ou meio,
para fins escolares, solicitando-se, todavia, a citação da fonte.

Projeto Gráfico
Gráfica Editora Millennium Ltda.
Formatação
José Rodrigues F. Júnior

Design Gráfico da Capa
Dário Teixeira Cotrim
Revisão de Texto e Normatização
Júlia Maria Lima Cotrim
Wanderlino Arruda

Fotos
Sérgio Mourão
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Prefeitura Municipal de Itacambira

Desenhos

Belmonte
 

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)

COTRIM. Dário Teixeira
C843e
Ensaios Históricos de Itacambira. Dário Teixeira Cotrim. Montes Claros -
Minas Gerais. Editora Millennium/Cotrim Ltda. Prefácio de Wanderlino Arruda. 2014.

138p.
ISBN - 978-85-67049-09-0

1. História 2. Itacambira 3. Minas Gerais I. Dário Teixeira Cotrim II. Título

CDD: B869.4
CDU: 994 (81)

Elaborada por Dário Teixeira Cotrim, da Editora Cotrim Ltda.

DEDICATÓRIA


“O sertão é do tamanho do mundo”
João Guimarães Rosa


Este livro Ensaios Históricos de Itacambira é dedicado a todo o povo itacambirense que, direta ou indiretamente, contribuiu para que ele fosse editado.

A você que tem sede de conhecimento e viaja no mundo encantado das palavras, espero se deliciar nas páginas deste livro que traz a história de um povo e de sua cultura.

Antônio Neto da Silva
Secretário Municipal de Cultura e Turismo


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM é baiano de Guanambi, nasceu no ano de 1949, e se radicou em Montes Claros há mais de 46 anos. Filho de Ezequias Manoel Cotrim e de dona Ida Teixeira Cotrim.
Advogado (pela Unimontes), Historiador, Jornalista, Articulista Político e Professor de Literatura e História. Ele é sócio emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (Belo Horizonte), sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, sócio correspondente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (Salvador); sócio fundador da Academia Guanambiense de Letras, sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes de Várzea da Palma e da Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes (Anelca). Sócio efetivo da Academia Montesclarense de Letras. Também é sócio honorário da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco (Aclecia) e da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas. Recebeu as Medalhas João Pinheiro e Israel Pinheiro, do IHGMG e a medalha Catrumano, em Matias Cardoso do governo do estado de Minas Gerais. Classificou-se em 1º lugar no “Concurso Internacional de Sonetos”, pela Academia Divinopolitana de Letras, em 2005. Escreve em vários jornais de Montes Claros e região. É aposentado do Banco do Brasil. Foi Secretário de Cultura e Turismo da cidade de Rio Pardo de Minas e ex-diretor da Biblioteca Pública “Dr. Antônio Teixeira de Carvalho”, de Montes Claros. Ele vem agora dedicando às pesquisas históricas do Norte de Minas. Publicou pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes o livro História Primitiva de Montes Claros. Nesta mesma linha publicou o livro História Primitiva de Guanambi e concluiu o livro Ensaio Histórico de Itacambira, além de mais de três dezenas de livros com gêneros literários diversificados: cordel, teatro, crônicas, biografias, bibliografias, genealogia e a história regional. Em Guanambi recebeu da Câmara Municipal a Medalha Flávio David e participou de vernissages de artes plásticas pela Secretaria Municipal de Cultura. É Cidadão Honorário da cidade de Bocaiúva.



 

ÍNDICE

PREFÁCIO - WANDERLINO ARRUDA - 11

PROÊMIO - DÁRIO TEIXEIRA COTRIM - 17

CAPÍTULO I

DATA S PERTINENTE S E DADOS ESTAT ÍSTICOS

• Isocronismo - 19
• Informações Preliminares - 20
• O que significa o nome “Itacambira”? - 21
• Os Símbolos do Município - 22
• Hino de Itacambira - 22
• Brasão do Município - 23
• Bandeira do Município - 25
• Mapa da Região de Itacambira - 26

CAPÍTULO II
HISTÓRIA PRIMITIVA DE ITACA MBIRA

• Na Distância do Tempo - 27
• As Entradas - 28
• Os Caminhos dos Bandeirantes - 28
• As Bandeiras - 29

• Fernão Dias Pais - 32
• O Sertanista Miguel Domingues - 34
• Estrada Real - 36
• Guerra dos Papudos - 37
• O que disse J. O. R. Miliet de Sant-Adolphe - 38
• Cronologia de Fernão Dias Pais - 39
• Os Índios Botocudos - 41

CAPÍTULO III
O POVOAMENTO E A CRIAÇÃO DA VILA

• O Povoamento - 43
• Termos de Minas Gerais e o Regimento dos Dragões - 44
• Criação da Freguesia - 45

CAPÍTULO IV
A MISTERIOSA LA GOA DO VUPABUÇU

• A Lagoa do Vupabuçu - 49
• Carta de Dom João Antônio Pimenta - 50
• Carta Topográfica da Lagoa do Vupabuçu - 55

CAPÍTULO V
A RELIGIOSIDADE DE UM POVO

• Igreja de Santo Antônio de Itacambira - 57
• Os Padres Pioneiros - 60
• Os Padres Progressistas - 62
• 300 Anos de Evangelização - 63
• Relato do Padre José Ozanan - 65
• A Joia de Itacambira - 68

 

 

CAPÍTULO VI
AS MÚMIAS DE ITACA MBIRA

• Um Enigma do Tempo - 69
• Crônicas no Tempo - 72
• Mortos Esquecidos: João Valle Maurício - 74
• O Mistério de Itacambira: Ramiro Lage - 76

CAPÍTULO VII
CULTURA E TURISMO

• Nossa Literatura - 81
• Pequena Antologia Poética - 82
• Artes Plásticas - 92
• Os Artesãos de Itacambira - 93
• Turismo em Itacambira - 93
• Na Rota do Conhecimento - 93
• Mapa do Ecoturismo de Itacambira - 95

CAPÍTULO VIII
A LENDA DO VUPABUÇU

• A mãe d’água Uiara - 97
• A Lenda do Santo Antônio Aparecido - 100
• O Crime da Malacacheta - 101

CAPÍTULO IX
COSTUMES E TRADIÇÕES

• A Festa do Divino Espírito Santo - 103
• Folia de Reis - 105

 

 

CAPÍTULO X
CURIOSIDADES INTERESSANTES

• O Batizado de Diadorim - 107
• Intendente Câmara - 109
• Pedra da Ursa - 110
• A Natureza Caprichosa - 112
• Lapa do Bugre - 113
• Fogo Simbólico - 114

CAPÍTULO XI
REGISTROS POLÍTICOS

• A Iniciação Política - 117
• Instalação do Município de Itacambira - 120
• Galeria dos Prefeitos - 122
• Câmara Municipal de Itacambira - 125
• Formação da Primeira Câmara Municipal de Itacambira - 125
• Formação da Atual Câmara Municipal de Itacambira - 126
• Pequena Biografia de Geraldo Maier Bicalho - 126

CAPÍTULO XII
ANOTA ÇÕES ANTIGAS

• Documentos da Igreja - 127

AGRADECIMENTOS - 132

BIBLIOGRAFIA - 133

 

 

PREFÁCIO

“Dentro da pedra já existe uma obra de arte,
eu apenas tiro o excesso de mármore”.
Michelangelo

Como pintor, como fotógrafo, como poeta, olhos e ouvidos abertos para belezas do mundo, será que tenho uma maneira especial para descrever Itacambira? A quantas anda a minha sensibilidade histórica - sempre apaixonada pela mineiridade do Norte - para sentir de alma e coração, todos os encantos com que Itacambira vive? Quantas visitas tenho de fazer, quantas idas e quantas vindas tenho que gastar para sorver tudo de belo que deve estar lá desde o tempo de criação, das tentativas, dos sonhos de ver contemplar esmeraldas? Como evocar os mesmos sentimentos que deve ter tido Fernão Dias ao contemplar o fulgir de luzes da Serra Resplandecente? Perguntas e mais perguntas, buscas infinitas de imponderáveis levezas, junção e colorido do que pôde ou não pôde a Natureza esculpir e detalhar cores...
Um dos clichês mais produzidos pelo cinema, em antigos filmes de faroeste, são as pequeninas cidades do interior, todas quase sempre vivendo mais paz do que guerra, uma espécie de santa inocência. Cachorro “quentando” sol, sino da igreja badalando amanheceres, fiéis caminhando para os cultos, meninos jogando bolas de pano e se lavando em repuxos, donos de vendas vendendo e tomando notas. Ainda mais: cowboys jogando damas, velhas vitrolas tocando Oh Suzana, as portas dos bares num abre e fecha de nunca terminar. Que saudades de um passado bonito e gostoso tão e tão distante do pisca-piscar e dos barulhos da vida moderna! Comparando passado e presente, acredito que é por isso que Itacambira é um lugar que vale a pena, que o ir lá e apreciar tudo tem a maior razão para quem gosta da vida e do viver. Itacambira é o retrato do passado com moldura do presente: linda, charmosa, colorida, quase inocente. Um paraíso para quem sabe ouvir e imaginar, ver e sentir.


Wanderlino Arruda, mineiro de São João do Paraíso, reside em Montes Claros desde 1951. Graduação em Letras e Direito, pósgraduação em Linguística, Semântica e Literatura Brasileira. Algum tempo de política (presidente da Câmara Municipal e Secretário da Cultura), muitos anos de bancário, muitos na construção civil, sempre no magistério. Onze livros, inclusive dois e-books (poesias e crônicas). Atividades em várias instituições: no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros: presidente; na Academia Montesclarense de Letras: vice-residente;
no Banco do Brasil,
treinamento de pessoal; no Rotary International, formador de administradores;
na Fundação Rotária Brasileira, coordenador regional,
webmaster de vários sites e blogs.

De uma coisa eu sei: lá em Itacambira, Gabriel Garcia Marquez jamais conseguiria escrever Cem Anos de Solidão. Do alto dos mais de mil metros acima do nível do mar, não há restrições de vistas e de pensamentos. É como se fosse o topo do mundo, lá fora e lá longe toda a beleza de existências, todos os azuis das serras e dos morros de velho e novo Testamentos. Itacambira tem figuras interessantíssimas de pedras, tudo desenhado para uma destinação histórica, sem gênese nem apocalipse.É tudo ou muito mais de um proporcionar de fantástica experiência no cotidiano e no sempre. Falar de Itacambira - só Deus sabe - é um modo de saborear frases e dedos de prosa, repicar vivências mais que verossímeis, longe e perto do quase normal, do incrível e do mágico. Mil e um, dois e três mil, muitos momentos de amor! Se fosse eu em vez de Dário Cotrim, o autor da história e das estórias de Itacambira - quem sabe muito mais poeta que historiador - escreveria tudo diferente, tendo e vivendo sonhos personalíssimos para explicar o mundo de encantos. Por meio de imagens, maior parte delas mais do que poéticas, tentaria encontrar uma perfeição interiorana ainda maior do que a naturezaé capaz de criar ou construir. Meu trabalho seria produzir frases, desenhar ideias, sonhar todos os sonhos possíveis e impossíveis para dar aos leitores a sensação de estar colorindo pinturas com as cores do próprio tempo. Cotrim - que já alcança situações de maestria da história - ao contrário, é outro tipo de pesquisador. Seriamente em cima de documentos, é o escrivão competente de escrituras do fielmente acontecido. Ele não tem compromissos com o dia-a-dia político, com as vaidades dos que governam ou formam opiniões. Escreve dentro do real, marcado sempre pelo acontecido, sem ferir e sem apresentar tintas do que não existiu ou não existirá. Sempre real, sempre justo com os textos que vieram antes dele, observa grafias, realça destaques. Seus mapas são desenhados por viajantes ávidos das novidades e das belezas do sertão mineiro e norte-mineiro. Muitos dos seus textos têm a fé de ofício de amigos nossos da escrita montes-clarense, entre eles os escritores Artur Jardim de Castro Gomes, Simeão Ribeiro Pires, João Valle Maurício e o
jornalista Fernando Zuba. Diferente de Cotrim, eu não, tentaria muito mais do que a verdade, talvez até mais do que muito...

Da sala de jantar de Nana e José Edson, ela pintora, professora, poeta do bordar e cozinhar, ele ex-prefeito da cidade, enquanto Dário Cotrim e eles conversam, levanto-me e saio de câmera em punho, para captar todo um mundo de belezas, frente a frente com a Serra Resplandecente. Não falo nem explico nada, isolo-me e só vejo a montanha verde, que está, ou continua numa beleza de eternidade. Bato uma, bato duas, bato vinte ou trinta fotos, um clicar de doce emoção. Coisa boaé câmera não ter mais filmes e você ficar à vontade para bater todas as fotografias do mundo. Ainda do lado de dentro, comose fosse um alpendre, mudo muitas vezes de posição e decido sobre as imagens que quero ter no agora e no depois. Ganhando o espaço externo, desço um, desço dois, desço todos os degraus, até encontrar a maior visão da superfície de verde e de brilhos. Quase não dá para economizar cliques, porque tudo é bonito demais numa paisagem que os bandeirantes viram e que até hoje alumia a história. Nem posso imaginar como tem sido cada amanhecer e cada boquinha da noite para aquelas almas sedentas de beleza da imensidão de Brasil, aliás, mais do que
isso, da elegância e da majestade destas inesquecíveis paisagens mineiras.

Voltando da deliciosa visão que só um gosto de sonhos pode permitir, Nana, a dona da casa, mesa posta, descobre a toalha para nos oferecer, como que para marcar nossa visita, dois presentes de dar muita água na boca: em pratos porcelanados, eis o mais suave dos requeijões, cremoso, macio, desejável até para quem não tem fome, e uma quase transparente
marmelada, exatamente do colorido daquelas que minha mãe fazia em São João do Paraíso, tão tecidamente fina que pode ser saboreada de garfo ou de colher. Acolhimento nota dez, a que o baiano mais mineiro que existe, Dário Teixeira Cotrim, e eu tivemos até que antecipar agradecimentos. Delícia das delícias.
Requeijão e marmelada, casados ou não, formam uma parceria para a mais requintada sobremesa, coisa de agradar ao mais exigente dos deuses. Para nós, a visão e o sabor foram mais do que um iluminar de chuvinhas, busca-pés e rojões numa noite de São João!

Em Itacambira, bendição da mais fina flor mineiramente virgem, mágica de onde evolui a terra e começa o céu - a belezaé tricotada com requintes de amor tanto pelo vento como pelo sol, pela brisa e pela lua. Em termos de história é como se a vidinha interiorana nunca mudasse, bastando o sentimento
de modéstia em cada nesga de tempo. Na praça, o coreto e o engenho, um bem pertinho do outro, quem sabe temerosos de jamais encontrar o futuro. Os dois, testemunhas de um passado não calculável em duração de séculos, conservam a preciosidade da madeira lavrada a demãos de enxó e em alisamentos de plainas. Cada foto representa doces liames a unir tantos que devem ter sido os tempos e os contratempos, beleza de filtros e peneiras de saudades. Tudo quase genuinamente bíblico. Com certeza o sempre lembrado Fernando Pessoa - vendo e contemplando - poderia até dizer que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

No geral um muito admirar, muito a ser levado em consideração. A paisagem rica de matizes, os horizontes de muita amplitude, a antiguidade do chegar e do sair dos bandeirantes, o cuidado de Fernão Dias em organizar a posse e a segurança das terras, deixando homens e mulheres em situação família. Admirável a abertura de estradas, a fundação dos garimpos, os princípios religiosos que até hoje sacralizam as convivências. Roceiros, lavradores, criadores de gado, faiscadores de ouro, garimpeiros do verde-azul de preciosas pedras, - toda uma gama de trabalho honesto - representaram o progresso inicial e o apetite de beleza do sempre. Para um conhecimento mais preciso, importante ler e analisar o texto do bispo D. João Antônio Pimenta, que viveu por lá o bom tempo de um ano, e a carta de encômios magnificamente escrita pelo Monsenhor José Ozanan, nos idos de 1980. Poucas vezes, pude ver e sentir uma religiosidade tão pura como a vivida até hoje em Itacambira. Pergunte isso a Jorge Ponciano e ao padre Jorge Luís Hugrey.

Tecendo este prefácio para o livro de Dário Cotrim, acredito com a mais justa modéstia de quem trata a situação com um carinho quase santificante e um entusiasmo que só pode sentir alguém gerado e nascido no interior de Minas, esta Minas Gerais, território e nação que nunca faltaram à brasilidade de tudo que há de melhor no mundo. Cada palavra - sentida e trabalhada - é, espero, uma contemplação, uma viagem literária, um fio de poesia pessoal e coletiva. Chego a acreditar que todos os meus leitores - também leitores do livro de Cotrim - estarão convictos de que, estando ou vivendo em Itacambira,
poderemos sempre vivenciar um deslumbrar de sonhos, um alvoroçar de sentimentos, um magnético agradecer a Deus a permissão para tanta grandeza e tanta majestade. Falando no sério ou no fantástico, posso afirmar que a felicidade não é propriamente
uma estação à qual chegaremos, mas uma agradabilíssima forma de ser e viajar.

Mil vezes os mais sinceros agradecimentos, a você, historiador Dário Teixeira Cotrim, por permitir essa grandiosa visão do real, do humanamente sensível e da encantadoramente poética história de Itacambira! Que este álbum histórico seja o mais legítimo documentário e fonte de pesquisas aqui e alhures, para alunos e para mestres de todos os graus e degraus do ensino, da escola primária até a universidade. Que as academias e institutos históricos vejam o seu trabalho como a mais legítima prestação de serviços ao Saber e à Cultura!

Deo gratias!



 

 

PROÊMIO

“A verdadeira viagem se faz na memória”
Marcel Proust

Apresentamos nesta despretensiosa obra, que intitulamos de Ensaios Históricos de Itacambira, os fatos históricos mais remotos da cidade. Trata-se, pois, esta meritória iniciativa somente em preservar a memória dos movimentos entradistas e exploratórios na Serra Resplandecente que resultaram na criação do primeiro centro de povoamento: a freguesia de Santo Antônio do Itacambiruçu da Serra do Grão Mogol.

Nota-se que os fatos históricos foram pesquisados e analisados, criteriosamente, possibilitando que este resgate sirva de base para o estudo da história da região do Norte de Minas, quiçá do Brasil. Por isso, o nosso objetivo é o de disseminar a história antiga da cidade de Itacambira para estudantes, historiadores e para todos aqueles que gostam de saber sobre o passado misterioso da terra e do encantamento de sua gente. Será assim porque a história estuda o pretérito com o objetivoúnico de explicar o presente, portanto, qualquer achega será bem-vinda para o complemento do que desejamos construir.

Para a melhor compreensão deste nosso modesto trabalho de pesquisa, no tempo e no espaço, foram acrescentados

 

aos seus textos, fotografias e várias notas explicativas. Também crônicas e depoimentos (cartas) sempre no sentido rigoroso dos fatos e com o intuito apenas de dar notícias extraídas da reduzida e valiosa bibliografia desde o século XVI até o momento, aparecendo em posição de relevo as obras dos mais sédulos informantes da nossa história: do padre Fernão Cardim (Tratado da Terra e Gente do Brasil) até ilustres historiadores montes-clarenses: Simeão Ribeiro Pires, Hermes de Paula, Urbino Vianna e tantos outros.

É importante esclarecer, ainda, aos nossos leitores que o nosso desejo de escrever sobre a cidade de Fernão Dias Pais se prende na gênese e na evolução dos fatos, enigmáticos ou não, ainda que sem exposição clara e devida da ciência. Portanto, na trajetória do tempo real, desde os primórdios da colonização - século XVI - até os dias de hoje, muitos foram os livros escritos com a finalidade de registrar as mais variadas sinopses inerentes à história dos municípios brasileiros. Itacambira não escapou à regra e em razão disso continuamos neste caminho, de tempo trilhado e sabido, apresentando com subido orgulho os Ensaios Históricos de Itacambira.


 

CAPÍTULO I

DATAS PERTINENTES E DADOS ESTATÍSTICOS

ISOCRONISMO

1681. Fernão Dias Pais chega à região de Itacambira e descobre as pedras verdes na Lagoa do Vupabuçu. Também neste ano ele morre, a caminho do Sumidouro;

1701. 13 de fevereiro - Baltazar de Morais é nomeado para explorar a região das esmeraldas;

1702. 15 de março - Antônio Soares Ferreira faz diligências para descobrir as esmeraldas anunciadas por Fernão Dias Pais;

1707. Provável início da construção da Igreja de Santo Antônio de Pádua, em Itacambira;

1718. Felisbello Freire anota que o bandeirante paulista Sebastião Raposo comandou uma expedição que passou em Itacambira;

 
 

1823. 23 de março - Alvará de Criação da Freguesia de Itacambira;

1840. 03 de maio - Lei Nº 184 - Elevação à paróquia o curato de Santo Antônio do Gorutuba com o nome de Santo Antônio do Itacambirussu da Serra do Grão Mogol;

1868. 22 de julho - Lei Nº 1575 - É extinta a sede de Freguesia de Itacambira;

1911. 30 de agosto - Lei Nº 556 - Data da criação do Distrito de Itacambira;

1923. 07 de setembro - Lei Nº 843 - É oficializado o nome de Freguesia de Itacambira;

1962. 30 de dezembro - Lei Nº 2764 - Data da criação do Município de Itacambira;

1963. Primeiro de março - Data da instalação do Município de Itacambira;

1998. 30 de julho - A Igreja de Santo Antônio de Pádua, de Itacambira, teve sua inscrição lançada no Livro II, do Tombo de Belas Artes.

INFORMAÇÕES PRELIMINARES

Localização: No alto Jequitinhonha, na serra do Espinhaço.

Limites: Ao norte com o município de Grão Mogol, ao sul com o município de Bocaiúva e Guaraciama, ao leste com o município de Botumirim e ao oeste com o município de Juramento.

Área do Município: 1.788.445 km2 (IBGE)

Latitude e Longitude: 17° 03’ 54” S 43° 18’ 32” O

População: 4.988 hab. (IBGE)

Densidade populacional: 2,5 hab/km2

Altitude: 1.048 metros

Temperatura média: 18,5°c

Bioma: Cerrado (IBGE)

Principais atividades econômicas: agricultura de subsistência,
pecuária, mineração e reflorestamento.

Distância de Itacambira para Belo Horizonte: 509
quilômetros.

Distância de Itacambira para Montes Claros: 94 quilômetros.


O QUE SIGNIFICA O NOME “ITACAMBIRA”?

O historiador Teodoro Fernandes Sampaio, no seu influente livro Vocabulário Geográfico Brasileiro, anotou o nome de Itacambira da seguinte forma: corr. Itá-acambira, o forçado de ferro; o compasso, a tenaz. Pois bem, neste mesmo estudo ele fez referencia às palavras Itabira com o seu significado: itabira,
c. a pedra levantada ou empinada. Tanto em Teodoro Sampaio como no livro o Dicionário da Língua Tupi (Chamada língua geral dos indígenas do Brasil), de Gonçalves Dias, que: itá = pedra, caá = mato e bira = empinado. Portanto Itacambira = pedra levantada, ou empinada, no meio do mato, o que não condiz com a explicação inicial de Teodoro Sampaio.

Itacambira (melhor Tucambira) na opinião de Urbino Vianna em Bandeiras e Sertanistas Baianos. Página 52. Tucambira corr. Tucã-mbyra, a pele de tucano. Entretanto, este não é o caso nosso, pois é sabido da pedra que sai do mato o que dá origem ao nome de Itacambira.

 

______________
OBS: Felisbello Freire, no seu influente livro História Territorial do Brazil, escreve Tacambira, conforme página 158. Vejamos:
“Pela parte do sertão se acha o mesmo continente povoado com as minas do rio de Contas, minas do Tacambira, Serro Frio e Minas Gerais, ao redor dos quaes e por entre ellas se achão povoados muitos currais de gado”.

 

 

OS SÍMBOLOS DO MUNICÍPIO

Os símbolos que representam o município de Itacambira são: o Hino, a Bandeira e o Brasão do Município. Esses símbolos retratam a história antiga e, também, as características que traduzem seus elementos mais expressivos como sua identidade, suas riquezas, seus costumes e suas tradições.

HINO DE ITACA MBIRA

Cá, no alto, bem distante,
Entre serras, onde nasceu,
Esta cidade pequenina
Que nos deixa perto do céu

A brisa que aqui passa
Nos traz perfumes agradáveis,
De seus campos, de suas flores,
De prados aqui tão saudáveis.

É nosso lar, nosso ninho,
Cheio de amor e bondade.
Onde oferece carinho
Aconchego e fraternidade...

Ó terra encantadora!
Das brilhantes serranias.
Da singeleza de seu povo
Das glórias de Fernão Dias.

Aos benfeitores desta terra
Cantemos louvores mil.
Sejam lembrados para sempre
Na história do meu Brasil.

Ó terra encantadora!
Das brilhantes serranias.
Da singeleza de seu povo
Das glórias de Fernão Dias.

Letra de: Nana Leão
Música: Maria Aurita Mendes Bicalho

 

BRASÃO DO MUNICÍPIO

O Brasão do município de Itacambira é composto das seguintes representações: na sua parte externa encimada pela Coroa Mural com seis torres em argente porque é sede do município. A cor prata do mural das torres significa a paz e a prosperidade. O escudo no estilo português está emoldurado pelos lados, dextra e a sinistra, por duas hastes de café, riqueza da região na sua agricultura. Na sustentação uma faixa vermelha com os dizeres: 1-03 - ITACAMBIRA - 1963. O nome do município e a data de sua instalação.

 
 
O escudo, em estilo português, é dividido em três partes:
Duas partes superiores formando uma cortina de cor vermelha, que retrata o sangue derramado dos destemidos homens que aqui chegaram ao final do século XVII. Do lado esquerdo um tambor, utensilio usado pelos gentios nesses tempos primários. Na parte direita, no alto, há uma estrela prata de cinco pontas que é o símbolo de ascendência do município. Abaixo, uma cruz em amarelo que representa a fé cristã do seu povo. Na terceira parte do escudo, vemos na parte inferior um debuxo branco, serpenteada, cortando o escudo de ponta a ponta. Trata-se esse risco do rio Itacambiruçu que revela a hidrografia da região. No alto veem-se o azul de Nossa Senhora e o verde que representa a vegetação dos nossos campos, na figura da Serra Resplandecente. Ao centro a cabeça do boi, numa alusão à pecuária, atividade rural que faz parte da riqueza do nosso povo.

 

BANDEIRA DO MUNICÍPIO

Bandeira do Município de Itacambira é representada por três cores: o verde que retrata a mata, o azul que simboliza o céu e a cor branca que representa a paz e a prosperidade. No centro da Bandeira o Brasão do Município.

 
 

MAPA DA REGIÃO
DE ITACAMBIRA


Desenho do Historiador Urbino de Sousa Vianna
Encarte do Livro “Montes Claros: Breves Apontamentos Históricos, Geográphicos e Descriptivos”


CAPÍTULO II

HISTÓRIA PRIMITIVA DE ITACA MBIRA

NA DISTÂNCIA DO TEMPO

Na chegada de Pedro Álvares Cabral e sua numerosíssima comitiva, em Porto Seguro (hoje Cabrália), o escrivão Pero Vaz de Caminha já relatava em sua Carta ao Rei o que dissera um dos dois silvícolas apresentados por Afonso Lopes ao capitão Cabral. “Um deles pôs olho no colar do capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que, nos dizendo que ali havia ouro...”. (1) A partir desse momento os portugueses sabiam que a terra era promissora e certamente que havia uma quantidade considerável de ouro e prata. Ainda no primeiro momento sugiram as lendas sobre as pedras verdes: as esmeraldas que já eram conhecidas dos indígenas brasileiros.


_____________
|1) Os |Caminhos do |Ouro
|e a Estrada |Real. Antônio
|Gilberto Costa. |Belo Horizonte.
|Editora UFMG.
|2005.

(2) Tratado escritivo do Brasil em 1587. Gabriel Soares de Sousa (1540-1591). Ed. rasiliana.
1987. Capítulo CXCV
Em que se declara o nascimento das esmeraldas e afiras.
Página 350.


____________

(3) SAMPAIO. Teodoro Fernandes. O Tupi na Geografia
Nacional. Páginas 125/391. “Corruptela de Yupaba-ocu, quer que dizer: a Lagoa Grande. Alternativa:
Upabuçu, Vupabuçu.

Também as esmeraldas passaram a ser assunto corriqueiro
no Tratado Descritivo do Brasil em 1587, trabalho de pesquisa de Gabriel Soares de Souza. “Em algumas partes do sertão da Bahia se acham esmeraldas mui limpas e de honesto tamanho, as quais nascem dentro em cristal, e como elas crescem muito, arrebenta o cristal; e os índios quando as acham dentro nele, põem-lhe o fogo para fazerem arrebentar, de maneira que lhe possam tirar as esmeraldas de dentro...”. (2). Nota-se que naquela época todo esse território pertencia à Província da Bahia e, por isso Itacambira
era considerado sertão da Bahia.

A história de Itacambira começa na distância do tempo, com um fato inusitado que ocorreu com o bandeirante paulista, Fernão Dias Pais, contraindo febre às margens da Lagoa do Vupabuçu, desassossegando os impávidos portugueses que até, então, andavam em busca de fortuna.

AS ENTRADAS

Outra vez, na distância do tempo, notícias das “Pedras Verdes”, as esmeraldas cintilantes da Serra Resplandecente,
chegam aos ouvidos dos bandeirantes paulistas e, em poucos meses, uma legião de aventureiros se forma em grupos para lançar na selva virgem das minas gerais, ao encontro da Lagoa do Vupabuçu (3). Assim, iniciava-se o povoamento da região de Itacambira.

OS CAMINHOS DOS BANDEIRANTES

Diferentemente das Entradas, os Bandeirantes usaram e abusaram dos leitos dos rios para penetrarem-se na região do

hinterland brasileiro. Pelos rios eles chegavam nos lugares mais distantes, ligando o sul com o norte e o oeste com o leste. O Rio São Francisco, por exemplo, foi o mais importante caminho para o sucesso das Entradas e Bandeiras. Aliás, mesmo depois da febre do ouro, o Rio São Francisco continuava sendo o mais procurado pelos colonizadores e por isso ele foi batizado com o nome do Rio da Unidade Nacional pelos estudiosos e pesquisadores da nossa história. Por outro lado, os morros, as serras e todos ou quaisquer sinais físicos da terra eram utilizados pelo homem para a sua orientação. A Serra Resplandecente e a Lagoa do Vupabuçu indicavam o lugar onde estariam escondidas as pedras verdes.

Escreve Vicente Tapajós que “assim como o ouro, também a caça aos índios era uma necessidade, ou antes, imposição do desejo de obter fortuna”. Em Itacambira viviam os índios botocudos. Muitos desses nativos foram preados por Matias Cardoso de Almeida e seu cunhado Antônio Gonçalves Figueira e vendidos como escravos para os fazendeiros paulistas. Como escreve Capistrano de Abreu: “Homens munidos de armas de fogo atacavam selvagens que se defendem com arco e flechas...”.


AS BANDEIRAS

Cala-se a estranha voz. Dorme de novo tudo
Agora, a deslizar pelo arvoredo mudo,
Como um choro de prata algente o luar escorre.
E sereno, feliz, no maternal regaço
Da terra, sob a paz estrelada do espaço,
Fernão Dias Pais Leme os olhos cerra. E morre.
(O Caçador de Esmeraldas - Olavo Bilac)


O Garimpeiro

(4) AS ENTRADAS - tinham a finalidade de expandir o território, eram financiadas pelos cofres públicos e com o apoio do governo colonial em nome da coroa, ou seja, eram expedições organizadas
pelo governo de Portugal.

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(5) Bandeiras e ertanistas Baianos. Urbino Vianna.
Página 138.

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(6) Revista do Instituto Histórico Brasileiro, pág. 67.
Parte I, pag. 76, Senhor de engenho no Caípe, Gabriel Soares, pág. 37.

Mas, antes mesmo da chegada de Fernão Dias Pais, outros bandeirantes passaram por aqui no comando de várias expedições para o reconhecimento do interior da terra brasílica, fazendo relatos e informando à Corte, supostas minas de pedras preciosas ou metais nobres (ouro e prata) nos cascalhos dos grandes rios. Enquanto isso, a Vila de São Vicente era a porta de entrada do sertão paulista, onde os bandeirantes fizeram grandes investidas pelo interior da província, aprisionandoíndios e descobrindo riquezas. Também eles conquistaram o oeste, ultrapassando o Tratado de Tordesilhas, um acordo político entre Portugal e Espanha.

Por outro lado, a Vila de Porto Seguro (Cabrália) oferecia aos aventureiros uma boa acolhida. As grandes caminhadas pelas selvas virgens, ao longo dos rios, eram desafios constantes que as Entradas(4) enfrentavam. “Orville Derby assinalou o esforço baiano nesses movimentos como fator importante da civilização brasileira, chegou à conclusão de que as minas de Caeté e Itacambira, ou Tucambira, na região chamada Serro Frio, foram primeiramente, descobertas pelo lado da Bahia e não de São Paulo”. (5)

Segundo o historiador Luís de Brito, o sertanista Sebastião Fernandes Tourinho foi o descobridor das esmeraldas na Serra Resplandecente, na região de Itacambira. Disse-nos que“largou ele em canoas de Porto Seguro, alcançou e subiu o Rio Doce (que os índios chamavam Mandij), e explorou as margens do sul, voltando com alvissareiras notícias de pedras verdes”. É a história das esmeraldas que começa. Na verdade, o sertanista Tourinho somente trouxe para conhecimento do povo, uma lenda que incomodou os bandeirantes paulistas. Ainda, assim, outros sertanistas investiram na conquista das esmeraldas. É sabido que desde Marcos de Azevedo, cujo roteiro das esmeraldas os jesuítas já conhecia, em 1611, até quando apareceu o bandeirante Fernão Dias Pais(6).

Diferentemente das Entradas, na Vila de São Paulo criou-se as Bandeiras. A denominação “Bandeira”, segundo o historiador Pedro Calmon, veio do nome da unidade militarbatalhão, ou do grupo armado do exército recomposto por Carlos V. Em outras palavras, D. Francisco Manuel de Melo nos ensina que “repartida a gente em partes desiguais, a que ora chamamos hostes, ora bandeiras”. (7)


A história registra que a primeira Bandeira foi a do capitão- mor de São Vicente, Jerônimo Leitão, de 1585. Nesta época importava-se muito mais em aprisionar índios, escravizando-os para o trabalho braçal, do que mesmo encontrar ouro ou pedras preciosas. Prear índios - assim como fez o jovem Antônio Gonçalves Figueira - era uma missão lucrativa e tinha o apoio das autoridades competentes. Nesta linha de raciocínio, podemos dizer que foram muitos os temíveis homens que se aventuraram pelos caminhos sinuosos das matas virgens. É verdade que nos rastros desses sertanistas plantaram-se vilas e povoados, contribuindo para o povoamento do grande sertão, haja vista que entre as províncias de São Paulo e Bahia as terras eram ignotas e vastas, além do mais o perigo dos animais selvagens, sempre em exposição, afastavam os viandantes do percurso normal. Os gentios e as intempéries, outros perigos eminentes que eram enfrentados com coragem e determinação.

O Brasil já havia passado por várias invasões. Os holandeses no nordeste e os franceses no Rio de Janeiro. Tudo isso indicava a necessidade dos brasileiros de se penetrarem pelo interior para a tomada definitiva da posse. Os paulistas tinham a consciência dessa conquista. Talvez, o custo alto de uma expedição fosse uma barreira, mas nunca deixou de ser impedimento para eles. Nada era incomum a vida dos bandeirantes nas selvas.

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(7) Epanáforas de Várias Histórias, pág. 176, Lisboa, 1676, Arcaísmo luso, tem a palavra a acepção que lhe dava Antônio Vieira na Anua da Província do Brasil, 1625: “bandeira nossa com mechas caladas”; Frei Vicente do Salvador. História
do Brasil 1500 - 1627.“estâncias, companhia

NOTA: O ouro sempre foi uma preocupação dos portugueses e as esmeraldas, por sua vez, uma obsessão constante. Em 1570, Pero de Magalhães de Gandavo registrava que “certos índios davam novas de umas pedras verdes, que havia numa serra muitas léguas pela terra a dentro”. Gabriel Soares revelava em sua obra que “alguns homens tinham ido à serra das Esmeraldas”. Também o historiador baiano Frei Vicente do Salvador, em 1627, informava essa serra: “Sabemos em certo haver uma serra na capitania do Espírito Santo em que estão metidas muitas esmeraldas”.

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(8)
Fernão Dias Pais (Leme - às vezes empregado, mas não é o correto, isso não obstante o seu pai chamar-se Pedro Dias Leme), na posse da provisão ou carta patente expedida em 20 de outubro

FERNÃO DIAS PAIS (8)


Assinatura do Caçador de Esmeraldas sem o
Leme que às vezes lhe emprestam

Pois bem, de posse da Carta Patente expedida em 20 de outubro de 1672, põe-se a caminho, no dia 21 de julho de 1674, o destemido bandeirante Fernão Dias Pais com a sua bandeira, da Capitania de São Vicente de Piratininga para a mata bruta do imenso sertão mineiro, como logo a mataria o malsinava. Numa carta-advertência, antes da partida para o sertão mineiro, Fernão Dias Pais disse: “E para isso deixei em Tucambira cinquenta aves e doze porcos alavancos e marronis, milho bastante do ano passado em casa e uma roça para colher com cinco negros e duas negras e a tenda armada, para com a chegada de dom Rodrigo e nova ordem que trouxer ter ali mantimentos para ir ter com o capitão José de Castilho à minha roça onde este ficou com a obrigação de a plantar de novo”. (Eduardo Canabrava. Roteiro das Esmeraldas. Rio de Janeiro. José Olympio. 1979. Página 89).

Desta mataria são troncos gigantescos que marcavam as picadas por onde os silvícolas andavam; são os buritis com os
seus leques abertos num aceno de puro desespero; são os cipós retorcidos e fracos, e galhos secos dos parasitas horripilantes que transformam tudo isso num inferno verde.

Fernão Dias Pais venceu todas essas barreiras naturais até a região de Itacambira!

Era fato comum, por onde passavam alguma expedição exploradora que, sempre ficavam pessoas em determinado lugar, para plantar e colher os mantimentos. Assim, esses lugares tornaram-se, com o passar do tempo, povoados e vilas. Portanto, foi uma determinação de Fernão Dias Pais a permanência do capitão José de Castilho e alguns servos, para guardar as minas descobertas e cuidar das roças. Assim, o lugar escolhido para plantar o povoado foi na parte mais alta da serra de Itacambira com o objetivo claro e sacramentado de fugir dos efeitos das epidemias que assolavam nas baixadas dos rios e lagoas. O capitão José de Castilho era um elemento estranho à comitiva de Fernão Dias Pais. Este já estava na região de Itacambira há muito tempo e por isso foi chamado por Fernão Dias para guardar as minas descobertas e cuidar das roças.

Com as supostas esmeraldas em um embornal de couro, o destemido Fernão Dias Pais parte com a sua comitiva para o Sumidouro e Sabarabussu. Aos poucos a paisagem da Serra Resplandecente ia ficando cada vez mais longe, longe até que desapareceu de uma vez por todas.

Desapareceu também Fernão Dias Pais.

Contava, então, o Governador das Esmeraldas já com setenta e três anos de idade quando veio a falecer nas margens do Rio das Velhas.

- “Esmeraldas!... Gritou alucinado o ancião... Esmeraldas!... E sentiu um calafrio - o primeiro sintoma da febre que o vitimaria poucas léguas adiante, ás margens do rio das Velhas...” (9)

de 1672, pelo Governador Geral Afonso Furtado de Mendonça, pela qual lhe foram conferidas as prerrogativas do estilo e o título de Governador das Esmeraldas, organizou a bandeira da qual, entre outros paulistas de merecimento e importância faziam parte: Matias Cardoso, o primeiro da ordem dos potentados, como Ajudante e Chefe - sucessor de Fernão Dias; Manoel de Borba Gato e Garcia Rodrigues, este filho e aquele genro do Governador das Esmeraldas; e Antônio Gonçalves Figueira, cuja individualidade se liga intimamente à nossa narrativa” (Urbino Vianna).

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(9) Hermes Augusto de Paula. Montes Claros sua História, sua Gente e seus
Costumes - Parte I. Montes Claros. Ed. Unimontes.
2007. Página 4.


O Bandeirante

Depois da morte de Fernão Dias Pais, o seu filho Garcia Rodrigues foi ao encontro de D. Rodrigues Castel Blanco, com um embornal contendo pedras verdes, dizendo ser as esmeraldas fruto dos sonhos de seu pai e um recado: “E assim mesmo me disse mandasse em nome de Sua Alteza tomar posse das pedreiras e de umas roças de milho e feijão que o defunto seu pai tinha no Sumidouro e Tucambira e matos e pedrarias, o qual, em nome do dito Senhor enviou pessoas suficientes a replantar e cuidar das ditas roças, até quando viesse ordem de Sua Alteza”. (Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte. 1924. páginas 161/2).

Na pesquisa feita por João Valle Alves de Souza, no seu artigo ”Luzes e Sombras Sobre a História e a Cultura do Vale do Jequitinhonha”, publicado no livro “Trabalho, Cultura e Sociedade no Norte/Nordeste de Minas”, ele disse que “a ocupação inicial de Minas Novas se deu por volta de 1726, sob a denominação de Minas Novas do Araçuaí. Em dois de outubro de 1730. Era criada a Vila de Minas Novas, que foi identificada por Saint-Hilaire pela denominação de Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Minas Novas do Araçuaí, ou Vila do Fanado. Entretanto, já nos primeiros anos do século XVIII, algumas expedições desbravam a porção alta do Espinhaço: Serro, em 1703; Itacambira, em 1704”.

O SERTANI STA MIGUEL DOMINGUES

Na “História Média de Minas Gerais”, do historiador Diogo de Vasconcelos registra que o capitão Miguel Domingues e um grupo de garimpeiros paulistas descobriram riquezas em Itacambira, onde passou a morar na região, iniciando assim o povoamento do lugar. Ainda conta Mário Leite no seu influente livro “Paulistas e Mineiros - Plantadores de Cidades” que“... a desenvolvida localidade de Montes Claros tem a sua origem

ligada à atuação dos sertanistas Miguel Domingues, que deixara as suas lavras de Ouro Preto e Antônio Gonçalves Figueira que abriu um caminho, nessas paragens, desde o ribeirão do Vieira até o São Francisco...”.

No meu livro “História Primitiva de Montes Claros”, fiz a seguinte anotação: sabemos por isso mesmo que o ardiloso sertanista Miguel Domingos estabeleceu-se nas montanhas de Itacambira em companhia de uma enorme famulagem, toda ela procedente da província de São Vicente de Piratininga.

Em resumo, notamos que durante a procura do ouro em Itacambira houve, entre esses fâmulos de Miguel Domingues e os garimpeiros baianos, moradores daquele local, uma verdadeira disputa pelo metal amarelo. A arrogância e as desavenças se tornavam de grandes proporções, tudo isto, com o perigo iminente para todos ali residentes de se envolverem em constantes rixas. A tradição, sob a ameaça da justiça, dá-nos um espelho enigmático do que realmente possa ter acontecido naquele lugar.

Os pugilatos no meio das ruas do pequeno povoado de Itacambira eram frequentes e tudo isso acontecia devido à rudeza de Miguel Domingues, pois todos “... viram nele um usurpador de glórias e vantagens obtidas à custa de canseiras e sacrifícios alheios...” pois, ele crava ali a triste figura do truste, fazendo de Itacambira uma sociedade açambarcadora, onde era suprimida a concorrência, admitindo à força, os preços convenientes aos seus interesses pessoais.

Daí a pouco veio a expulsão total dos paulistas (Guerra dos Papudos(10)).

Isso tudo ocorreu em virtude da cúpida ganância e do
ódio dos forasteiros. Ora, a expulsão dos paulistas aconteceu com a explosão da Guerra dos Papudos, movimento criado sob


Guerra dos Papudos

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(10) É verdade que nas minas a lei dos mais fortes sempre vigorava com absoluta precisão. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” era esta a maneira dos mais ricos e poderosos sobre a camada dos aventureiros mais fracos. Na Guerra dos Emboabas, que aconteceu no de 1709, os portugueses saíram vitoriosos e expulsaram os paulistas das terras do ouro. Foi uma contenda horrível, onde muitos paulistas morreram no Ca-

pão da Traição, no rio das Mortes. Aqui, em Itacambira, aconteceu a Guerra dos Papudos, uma luta sanguinária entre os paulistas e os baianos. Novamente os paulistas foram derrotados e expulsos da região. Nota-se que este fato aconteceu por duas vezes. Em consequência dessa luta, o sertanista Miguel Domingues e seus homens foram para a fazenda Montes Claros, de José Lopes de Carvalho.

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11) Antologia da Academia Montesclarense de Letras.
Hermes Augusto de Paula in Desembargador Antônio Augusto Veloso. Página 122
.

as lideranças daqueles que lhe quiseram impedir a mineração
do ouro naquele lugar. Entravam em conflito os interesses de
alguns moradores da vila com os dos homens da tropa de iguel Domingues. O historiador Diogo de Vasconcelos disse que as minas de Itacambira foram manifestadas pelos “papudos”.

Por ser um tanto constrangedor e, em parte, ainda pendente
de confirmação, mas o refúgio foi a saída honrosa e imediata
dos impertinentes paulistas “desta sorte foi que alguns daqueles valentes exploradores, atravessando o rio Verde e a extensão de terras então inabitadas vieram ter casualmente à Fazenda de Montes Claros”(11)

Há aqui mais um engano que cumpre desfazer, pois nos parece que não foi tão casual assim a presença dos homens de Miguel Domingues aqui na Vila de Montes Claros de Formigas, como afirma o desembargador, doutor Antônio Augusto Veloso. É significativo registrar que o atual proprietário da fazenda dos Montes Claros, na época da chegada do capitão Miguel Domingues, era o alferes José Lopes de Carvalho, também oriundo daquele depósito natural de minérios nas vizinhanças de Itacambira, portanto, um velho conhecido desta corja de homens selváticos.

ESTRADA REAL

Não obstante a região de Itacambira ter sido visitada pelos baianos, como afirmou Urbino de Sousa Vianna, no seu comentário do livro “Bandeiras e Sertanistas Baianos”, como se segue: “Chegou à conclusão de que as minas de Caeté e Itacambira (aliás, Tucambira), na região chamado Serro Frio, foram, primeiramente, descobertas pelo lado da Bahia e não pelo lado de

São Paulo”. No viés da questão, podemos afirmar que a Estrada Real, por onde passava o ouro, não beneficiou Itacambira, tendo em vista a sua posição geográfica: do lado direito, vinha-se do Tijuco para Minas Novas, fazenda da Vacaria e o sítio de São Romão (Salvador Cardoso de Sá) e, finalmente, para o sertão da Bahia (Tranqueira - na Chapada Diamantina). Pelo lado esquerdo, do Tijuco havia várias ramificações que dava até a Barra do Rio das Velhas (Guaicuí) e, também, a vila de Montes Claros de Formigas. Daí para frente o caminho era o Rio São Francisco. Portanto, entende-se que a Vila de Itacambira ficava numa região montanhosa, de difícil penetração e isolada do acesso da Estrada Real. Nem por isso, permaneceu isenta da ação devastadora dos garimpeiros de Miguel Domingues.

GUERRA DOS PAPUDOS

O que aconteceu com a Guerra dos papudos, no nosso modesto entendimento, foi uma estúpida invasão coletiva e descomedida dos baianos na região de Itacambira, onde os homens do capitão Miguel Domingues lavravam a terra em um silêncio absoluto. Essa plausível agitação dos baianos baseia-se, de algum modo, à própria ansiedade de recuperar a posse perdida das terras do sertão dos Cataguases. Porque tudo aquilo ali era território da Bahia.

Os paulistas, sendo efetivamente descobertos, como diz Diogo de Vasconcelos: “foram assaltados por um bando de mestiços denominados de papudos, semibárbaros, provenientes do Rio de Contas, e por estes intimados a darem de mão os serviços, sob o pretexto de ser aquele distrito pertencente à Bahia e não aos paulistas...”.


Fernão Dias Paes Leme (1608-1681) nasce provavelmente na vila de São Paulo do Piratininga, descendente dos primeiros povoadores da capitania de São Vicente. A partir de 1638 desbrava os sertões dos atuais estados do Paraná,
de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, chegando ao Uruguai. Em 1661 fixa-se nas margens do rio Tietê, perto da vila de Parnaíba, e administra uma aldeia com
cerca de 5 mil índios escravizados. Em julho de 1674 parte de São Paulo à frente da bandeira das esmeraldas, da qual fazem parte o genro Manuel da Borba Gato e os filhos Garcia Rodrigues Pais e José Dias Pais. Este último conspira contra o pai, que manda enforcá-lo como exemplo na região de Esmeraldas. A expedição alcança o norte de Minas Gerais (Serra Resplandecente - Itacambira), e por mais de sete anos o bandeirante explora os vales dos rios das Mortes, Paraopeba, das Velhas, Araçuaí e Jequitinhonha. Encontra as turmalinas, que pela cor verde confunde com esmeraldas. Morre de malária perto do Sumidouro, ao retornar a São Paulo.
De principio, ousaram viver em paz aqueles dois grupos de mineradores, mas os homens do capitão Miguel Domingues, não acatando as determinações impostas pelos invasores, foram por eles - os papudos - expulsos daquelas terras. Como quer que seja, este episódio ficou conhecido pelo nome de Guerra dos Papudos! O QUE DISSE J. O. R. MILIET DE SAINT-ADOLPHE Na excelente obra Diccionário Geográphico Histórico e Descriptivo do Império do Brazil, de Miliet de Saint-Adolphe, do ano de 1845, foi registrado nas páginas 505/6 que a Freguesia da Província de Minas Gerais - Itacambira - (ficava) a 22 léguas ao noroeste da cidade de Minas-Novas, 90 pouco mais ou menos ao nordeste da cidade d’Ouro Preto, e 12 ao norte da vila de Formigas. Teve princípio esta povoação em 1698, tempo em que uma bandeira de paulistas comandada por Miguel Domingues, entranharam-se nas matas, se estabeleceu entre as montanhas escabrosas quer fazem ao sul do rio Itacambira. Os companheiros de Miguel Domingues foram expulsos d’aquele sitio por outros paulistas, a que os primeiros puseram o nome de Papudos. No cabo de muitos anos de continuas rixas, ficando os Papudos senhores das minas que só foram conhecidas no governo em 1707, edificaram uma Igreja da invocação de Santo Antônio, que não teve título de paróquia senão passados trinta anos. O termo Freguesia de Itacambira, que dizem ser de 40 léguas de comprimento e quase outro tanto da largura, encerra tão somente uma população de 8.000 habitantes mineiros e criadores de gado.

CRONOLOGIA DE FERNÃO DIAS PAIS

1608: Nasce em São Paulo, Brasil.
1626: Assume seu primeiro posto de trabalho como fiscal de vendas da Câmara Municipal.
1638: Participa na Bandeira de Raposo Tavares no Sul do Brasil.
1640: Fernão Dias defende a expulsão dos jesuítas.
1644 a 1646: Parte em nova Bandeira, desta vez no sertão.
1650: Empenha-se na construção do Mosteiro de São Bento, em São Paulo.
1651: É eleito juiz ordinário.
1653: Promove a reconciliação entre paulistas e jesuítas.
1661: Volta ao sertão em busca de índios, para depois vendê -los.
1665: Retorna a São Paulo com mais de 4 mil índios; não conseguindo vendê-los, passa a administrá-los numa aldeia às margens do Rio Tietê. 1671: Recebe recomendação do governador para descobrir esmeraldas. 1672: Começa os preparativos da sua expedição.
1674:Parte com 674 homens à caça de ouro e esmeraldas.
1681: Entre cascalho descobre o primeiro lote de pedras verdes no Vupabuçu. Morre de febre no meio da mata rumo ao Sumidouro

 

Eduardo Bueno, em seu livro“história do Brasil” definiu muito bem a importância
e a ação desses homens:“Em apenas três décadas - as primeiras do século XVII -os bandeirantes e seus mamelucos podem ter matado ou escravizado cerca de 500 mil índios, destruindo mais de cinquenta reduções jesuíticas nas regiões do Guaíra, do Itatim e do Tape”.

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NOTA: Durante a volta de expedição de Fernão Dias Pais, de Itacambira para o Sumidouro, novamente houve um princípio de desassossego contra as ordens
do comandante. Alertado por uma índia Fernão Dias faz uma reprimenda aos desordeiros, jurando-os castigo idêntico ao imposto ao seu filho bastardo José Dias: a forca. Em vista disso, a região ficou conhecida com o nome de ‘juramento’ topônimo que foi
emprestado para denominar a cidade


O Mercador

“Desde que saí de Serra Nova, quase não descansei. cheguei em São Félix, achei logo frete inteirado para Maracá. Ai tampei a tropa de sal e ia para casa. Mas no Gavião soube que nas Lavras do Mucugê, sal e toucinho estão bons. Então troquei um bocado de sal por toucinho e aqui vou eu...” (Maria Dusá – Lindolfo Rocha)

OS ÍNDIOS BOTOCUDOS(12)

Os índios da região de Itacambira não foram empecilhos para o arranchamento dos paulistas em volta da Lagoa do Vupabuçu. Se eles não ajudavam em nada, também não atrapalhavam. Viviam sempre à distância dos agrupamentos. Eram, por assim dizer, de uma rudeza inconfundível, preguiçosos e vingativos. Matias Cardoso de Almeida e Antônio Gonçalves Figueira eram sabidamente preadores de índios. Entretanto, essa prática foi usada em outros lugares - principalmente no nordeste quando Figueira voltou com 700 índios aprisionados - mas isso não aconteceu na região de Itacambira, pelo menos não há registros nesse sentido.

Perlustrando a região de Itacambira, os cientistas Spix e Martius anotaram, com detalhes, as principais características
dos índios Botocudos, os que habitam a região. Vejamos:“Quando, no dia seguinte, cavalgamos pelo cerrado tabuleiro, no declive gradual da chapada, em caminho para o principal lugar do termo de Minas Novas, a Vila de Bom Sucesso ou do Fanado, fomos subitamente surpreendidos por um bando de índios nus, homens e mulheres, que vinham em completo silêncio pela estrada. Eram da tribo dos Botocudos antropófagos. Como todos os índios que havíamos visto até agora, eram também estes de cor de canela clara, de altura mediana, estatura baixinha, pescoço curto, olhos pequenos, nariz curto achatado e lábios grossos. O cabelo negro brilhante, escorrido, caía em melenas revoltas em alguns; a maioria deles trazia-o raspado em volta da cabeça, até uma polegada acima das orelhas”.

Ainda conta Spix e Martius que presenciaram “o mais revoltante aspecto de uma mulher (índia) a qual tinha os braços, pernas e seios cobertos de feridas sangrentas e inchados e andava

NOTA: Durante o retorno da expedição de Fernão Dias Pais, entre Itacambira e Juramento, há a Serra do Decamão. Segundo o historiador Simeão Ribeiro Pires, esse nome originouse das dificuldades dela ser transposta pelos homens da comitiva. Haja vista que os elementos que avançavam tinha que dar a mão aos que vinham atrás, carregando suprimentos e armas.

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(12) Botocudo é uma denominação que os colonizadores portugueses utilizavam para identificar o conjunto de índios que usavam botoques labiais e auriculares.

 
vacilante atrás da horda. Ela fora surpreendida pelo marido no ato de infidelidade; este no acesso de ciúme, paixão tão dominante entre os índios, havia-a marrada a uma árvore, travessando-a de flechadas, e agora, abandonada, ela acompanhava, como mal o podia, o bando, já arrependida do passo em falso”.

 

CAPÍTULO III

O POVOAMENTO E A CRIAÇÃO DA VILA

O POVOAMENTO

Como já dissemos no parágrafo anterior, a cidade de Itacambira foi encravada no topo da serra do Espinhaço como celeiro e guarnição para o distrito das Esmeraldas. Notícias advindas dos registros históricos falam que no ano de 1698, quando o capitão Miguel Domingues, em companhia de um grupo de paulistas chegou à região para promover a garimpagem da terra na esperança de encontrar as famosas pedras verdes de que tanto falavam os componentes da expedição de Fernão Dias Pais.

Porém, escreve Simeão Ribeiro Pires que a cidade de Itacambira teve início com a criação de “uma feitoria, um reduto fortificado e com roças, a fim de manter a sobrevivência. Algo inteiramente semelhante aos atuais apoios logísticos de sustentação, nos avanços e retornos de suas incursões exploratórias”.

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“As terras virgens que se estendem bem p’ra lá das serranias de Grão-Mogol, nunca dantes taládas pelos aventureiros dos séculos anteriores à procura das sonhadas pedras verdes e nem pelas bandeiras que desceram das plagas paulistanasà cata de esmeraldas, eram descritas com as cores mais dispares e quebradas da terra portuguesa, como a seara alcatifada de diamantes e
ouro!”

(Grão Mogol: de Portugal a Portugal, de Mário Martins de Freitas. P. 9).

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(1) Revista do Arquivo Público Mineiro, volume VII, páginas 939/40.

Há documentos no Arquivo Público Mineiro, que datam de 13 de fevereiro de 1701 sobre a nomeação de Baltazar de Morais para a provisão da região. Do mesmo modo, em 15 de
março de 1702 lê-se em documento do mesmo Arquivo Público Mineiro que “o guarda-mor Antônio Soares Ferreira fez exatíssima diligências por descobrir novas minas e explorando com todo zelo e cuidado do serviço de S. Majestade, de que Deus guarde, todo este sertão do Serro Frio e Tucambira, não só pelos lucros (...) vinha para essas partes tão distantes, a descobrir estas novas minas, como com efeito descobriu, à sua custa , com grande trabalho e perda de sua fazenda (...) e o acompanhou seu filho João Soares Ferreira, e o capitão Manoel Correia Arzão, o que eu escrivão certifico e sei, por também acompanhar ao dito guarda-mor...” (1)

TERMO DE MINAS NOVAS E O REGIMENTO DOS DRAGÕES

No ano de 1812 o Termo de Minas Novas tinha a sede na
Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Fanado. Faziam parte deste termo as seguintes freguesias: Santa Cruz da Chapada, Nossa Senhora da Conceição de Água Suja, Nossa Senhora da Conceição do Sururiú, São Domingos e Nossa Senhora do Rio Pardo. Do mesmo modo os arraias de Itacambira, Barreiras, São João, Araçuaí, Nossa Senhora da Penha e Piedade. Assim, também, como os povoados de Brejo das Almas, Cabeceiras do Rio Verde, Serra do Encantado, Serra Branca, Conceição, Santo Antônio do Gorutuba, Prata, Olhos d’Água e Maravilha. Neste mesmo termo, o Regimento dos Dragões de Minas, estavam destacados uns 36 homens no serviço do diamante da Serra de Santo Antônio, em Simão Vieira, Passagem da Bahia e Tocaios.

Nas anotações de Dona Concórdia Luzia Ribeiro encontramos a seguinte afirmativa: “Era tão intensa a movimentação no Arraial de Santo Antônio de Itacambira, que somente o Destacamento dos Dragões (Reais de Minas - de Portugal), para policiar o ercado do ouro, era composto de oitocentos soldados”. Consta também que foi em Itacambira a criação dos primeiros Dragões de Minas Gerais - hoje chamado Dragões da Independência. Tanto que até o ano de 1709 não existia nenhuma referência sobre esse policiamento nas minas. Somente na data de 18 de janeiro de 1719, é que foram criadas duas Companhias de Dragões para a guarda das minas, por D. Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho. Nota constante do livro “Crônica da Polícia Militar de Minas”, de Geraldo Tito Silveira, (página 35).

CRIAÇÃO DA FREGUESIA

A freguesia foi criada com o nome de Santo Antônio do Itacambiruçu, por Alvará de 23 de março de 1823. Entretanto, a regalia deste feito foi tornado sem efeito, voltando tudo a estaca zero. Em consonância com a Lei nº 184, de três de abril de 1840, que a elevou curato de Santo Antônio do Gorutuba, modificou o nome do povoado, passando a se chamar freguesia
de Santo Antônio do Itacambiruçu da Serra do Grão Mogol. Sabe-se que as dificuldades religiosas ficaram mais presentes na rotina dos mineradores. Nota-se que essa lei foi modificada, passando o povoado a chamar-se Santo Antônio do Bom Retiro,
município de Grão Mogol.

Também nesta época os mineradores levantaram uma pequena
capela, tendo como padroeiro o milagroso Santo Antônio. Na concepção de muitos historiadores, a presença de uma simples capela já era o bastante para iniciar um núcleo habita

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A povoação devia servir para centralizar a administração das minas de Rio de Contas e Itacambira e as que se descobrirem...”. (Felisbello Freire)
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NOTA: O Pico de Itacambira teve um papel de um verdadeiro farol a orientar bandeirantes e sertanistas, bem como milhares de mineradores que para ali acorreram na fase áurea de mineração do ouro e dos diamantes. (Simeão Ribeiro Pires)

cional. A cidade de Itacambira nasceu exatamente assim, sob a proteção de Santo Antônio e se desenvolveu com a mineração. A Guerra dos Papudos não foi suficiente para atravancar o surgimento da vila.


A partir da data que a região passou a ser palmilhado por
homens e tropas, com a abertura de estradas e caminhos para melhor facilitar o comércio dos mineradores e os recebimentos de mantimentos para o abastecimento da população do povoado. O caminho mais importante foi aberto por Antônio Gonçalves Figueira, de sua fazenda Brejo Grande a Tranqueira, na Chapada Diamantina (Bahia).

Consequentemente outros caminhos foram surgindo naturalmente. Durante a viagem do sertanista Quaresma Delgado, em 1730, os caminhos que indicavam o destino ao povoado de Itacambira (que estava no Roteiro de Quaresma conforme cópia do manuscrito nº 346, existente no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sob a rubrica Index de Várias Notícias), foram descritos através dos tempos por vários historiadores. Vejamos:

A Tocambira 3 e ½.

Do Brejinho seguindo a estrada em distância de meia légoa se mete a estrada em outra, que vem das Minas Geraes, Rio Verde, e outraz partez. Daqui ao riaxo do Tamanduá hum legoa e meya, deste a serra do Tombadouro meya legoa, e daqui abaxo a Tocambira meya legoa; desde a Vacaria athe este Tomadouro vem correndo uma corda de serras, que aqui vem fazer ponta. He esta Tocambira situada nesta baxa, rodeada com um cordão de serras desde o sueste athé o Norte, e p.ª o Nordeste, e tudo já são montes de subir, e descer, nordeste Sudueste, corre o Rio por onde se está mina-

rando, e tem este a nascente da serra do sudueste, tem bastante cazas, couzas de quinze ou vinte. &. (Urbino Vianna. Bandeira e Sertanistas Baianos. Página 199).

Também o historiador Felisbello Freira registra que, em 1718 um bandeirante paulista - o coronel Sebastião Raposo - no comando de uma expedição numerosíssima, veio de São Paulo para as cabeceiras do Rio de Contas passando por Itacambira. Pois, naquela época, já se utilizava do caminho de Itacambira para se chegar até a Chapada Diamantina.

“Duas estradas de comunicação já ligava a Bahia a São Paulo, que se bifurcavão, justamente nessas cabeceiras, (lugar chamado Tranqueira, na opinião de Antonil e que localisamos em Criolo) para seguir, uma pelo S. Francisco e outra pelo Espigão do Espinhaço até o Rio Verde Grande e suas cabeceiras, Itacambira e Rio das Velhas”. (Felisbello Freire. História Territorial do Brazil. Página 156).

É certo que a povoação de Itacambira aconteceu no ano de 1707. (2) Aliás, muitas coisas aconteceram nesta região durante o inicio do século XVIII. A criação dos currais de gado vacum e o início da mineração nas serras e nos rios do Vale do Jequitinhonha e do Rio Pardo. Nota-se que o ouro foi uma preocupação constante dos portugueses, mas as esmeraldas foram uma obsessão sem controle, onde muitos perderam a vida na esperança de alcançar as pedras verdes.

(2) Foi exatamente neste mesmo ano que o bandeirante Antônio Gonçalves Figueira retornou para a região, solicitando e obtendo
por Alvará de 12 de abril de 1707, uma sesmaria de légua e meia de largura por três léguas de comprimento. Nessa sesmaria foi criada a fazenda dos Montes Claros de Formigas.

CAPÍTULO IV

A MISTERIOSA LA GOA DO VUPABUÇU

Para o norte inclinando a lombada brumosa
Entre os nateiros jaz a serra misteriosa;
A azul Vupabuçu beija-lhe as verdes faldas,
E águas crespas, galgando abismos e barrancos,
Atulhados de prata, umedecem-lhe os flancos,
Em cujos socavões dormem as esmeraldas.

(Caçador de Esmeraldas - Olavo Bilac)

A LA GOA ENCANTADA

Em verdade, a continuarem os mistérios das pedras verdes e dos corpos mumificados, a cidade de Itacambira terá a sorte trágica da impaciência humana sobre os enigmas do seu


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Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865- 1918) foi poeta e jornalista brasileiro. Escreveu a letra do hino à Bandeira brasileira.É membro fundador da Academia Brasileira de Le

tras. Foi um dos principais representantes do Movimento Parnasiano que valorizou o cuidado formal do poema, em busca de palavras raras, rimas ricas e rigidez das regras da composição poética. morreu Olavo Bilac no Rio de Janeiro, no dia 28 de dezembro de 1918. Escreveu o poema O Caçador de Esmeraldas, em1902. (Wikipédia)

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(1) PIRES. Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Belo Horizonte. 1979. Páginas 71/75
.

passado glorioso. Ora, diante desses descalabros, há quem se engane supondo que a verdadeira razão cabalística dos fatos reside em narrativas inacabadas.

A lenda das pedras verdes, as esmeraldas descobertas por Fernão Dias Pais, ainda resiste ao tempo. A Lagoa encantada do Vupabussu, agora jaz no encantamento dos fatos. Por incrível que pareça, ela desapareceu do mapa! A proposito, transcrevemos para cá carta de D. João Antônio Pimenta, onde ele faz várias revelações sobre a existência da lagoa. Não se sabe ao certo o quanto de verdade existe no seu texto, mas é sabido do seu grau de conhecimento sobre a geografia e a história da terra mineira. Portanto, a Lagoa do Vupabussu foi encontrada, o que não aconteceu com as pedras verdes.

CARTA DE D. JOÃO ANTÔNIO PIMENTA (1)

Venho dar a V. Excia. uma notícia que será, por certo, muito agradável: a descoberta da prova real de ser Itacambira. Como V. Excia afirma como segurança, de perfeito conhecedor do nosso passado histórico, em sua obra magistral História Antiga de Minas Gerais, o local da mina de supostas esmeraldas descobertas por Antônio Dias Adorno ou, talvez, por Sebastião Fernandes Tourinho, reconhecida e descrita por Marcos de Azevedo Coutinho e novamente descoberta, depois de perdida por muitos anos, no deserto pelo super-homem Fernão Dias Pais, depois de heroicos sacrifícios. Uma objeção séria se levanta contra essa opinião, aliás, a mais comum: a não existência, ali, de formosa lagoa Vupabussu e principal característica do sítio descrito. Conhecedor do lugar e bem certo de que em toda a bacia de Itacam-

bira não há lagoa alguma que mereça, também eu me deixei dominar pela dúvida, apesar da ocorrência de outros sinais distintivos do local histórico.

Tendo passado, há mais de um ano, uma temporada em Itacambira, em tratamento de saúde, nessa ocasião tive que perlustrar, a cavalo, em passeio higiênico num local denominado Vargem Grande, situado a cinco quilômetros mais ou menos, do velho arraial; e impressionou-me a forma de grande lagoa que tinha a várzea, toda coberta de um lençol de areia.

Examinando-a com cuidado, pude verificar que, de fato, era uma lagoa obstruída por enorme quantidade de areia, derivada de grandes serviços de mineração, que em tempos remotos se efetuaram nas margens dos córregos que confluíram para a dita lagoa.

Além do areal, em forma de grande lagoa, de três quilômetros de comprimentos sobre um de largura, outros sinais existem da antiga, entre os quais os seguintes:

1º - O alagamento de toda a várzea nas grandes cheias dos córregos, elevando-se as águas a um metro de altura, com dois vincos abertos por elas nos barrancos da margem esquerda, encostados à serra.

2º - O espraiamento das águas de um córrego que por esta causa tomou o nome de Espraiado. Corria ele antigamente para a lagoa; tendo-se ela, porém, obstruído pelas areias das lavras, as águas do córrego ficaram ao nível do arraial, derramando-se em parte dele em demanda do ribeirão Sujo, que era o principal tributário, ou melhor, o principal fator da lagoa.

Dom João Antônio Pimenta nasceu no Arraial de Capelinha, hoje chamado simplesmente de Capelinha, um município de Minas Gerais. Após os estudos feitos em Minas Novas e mais tarde no Colégio do Caraça, matriculou-se em outubro de 1879 no curso de Teologia do Seminário de Diamantina e foi ordenado sacerdote no dia 10 de julho de 1883. Foi nomeado vigário de Capelinha em 1892 e passou a residir em Água Boa com o fim de construir uma igre

ja. Em 1897, foi removido para a Freguesia de Piedade e, em 1889, foi ocupar a Freguesia de Teófilo Otoni. Nessa ocasião, Dom João foi agraciado com o título de Camareiro Secretário Supra-Numerário do Papa Leão XIII. No dia 21 de fevereiro de 1906, ele foi escolhido como Bispo Coadjutor da Diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul, com a sede titular da Pentacomia a 21 de fevereiro de 1906. Dom João foi ordenado bispo em Barreias a 20 de junho de 1906 por Dom Joaquim Silvério de Sousa e, no dia 8 de setembro, fez sua entrada solene em Porto Alegre. Seu lema de vida episcopal era SUB UMBRA ALARUM TUARUM (Sob a sombra de tuas asas). Durante os cinco anos incompletos que passou no Rio Grande do Sul, Dom João Antônio Pimenta fez a visita canônica a toda a Diocese, cujos limites eram os mesmos do estado.

3º O nome deste ribeirão cujas águas são hoje de cor natural, bem claramente manifesta a grande quantidade de terra e areia, por que ele foi arrastado nos tempos da exploração das lavras, no decurso do Século XVIII.

4º - A existência de duas lagoinhas na várzea, uma na parte superior do arraial e a outra no inferior; como se vê da carta topográfica respectiva. O areal figura na carta com o nome de areão.

5º - Por estes fundamentos, fui levado a crer que se tratava, sem a menor dúvida, da histórica lagoa Vupabussu; e experimentei (por que não dizê-lo?) uma alegria tanto parecida com a de Arquimedes, e como ele exclamei: Eureka... Minha convicção arraigou-se ainda profundamente, com as seguintes considerações:

1º - A lagoa, como proficientemente afirma V. Excia., devia estar além de Itacambira (obra citada 2 ed. Pág. 41) e a várzea para quem vem de sudeste, da barra do Itamarandiba, está precisamente um pouco além (uma légua mais ou menos) do pico de Santana, que se ostenta altaneiro e majestoso, no meio da bacia do Itacambira, destacando da cordilheira, cercado de matos, com todos os característicos manifestados pela palavra Itacambira, segundo a interpretação de V. Excia., isto é ita, pedra, cão, mato, bir, pontuda: pedra pontuda que sai do mato.

Os índios, que na denominação de cada lugar e de cada coisa, como V. Excia bem disse à página 84, se inspiraram sempre nos seus sinais característicos, não podiam dar a esta abrupta montanha nome mais apropriado que o de Itacambira.

Convém acrescentar que é junto dela que passa o córrego que tomou o nome de Itacambira, e na segunda metade do seu curso o de Itacambirussu - Itacambira grande.

2º - Uma garganta situada na extremidade superior da várzea tem o nome de Bocaina Encantada, epiteto este que se comunicou à serra da qual ela faz parte. Como se sabe, a lagoa Vupabussu era tida também por encantada.

3º - O ribeirão Sujo e os outros córregos que desaguavam na lagoa, deslizavam-se por entre florestas virgens, arrastando cada um deles para a lagoa, grande quantidade de folhas e de detritos vegetais e animais. Isto explica a erupção de epidemias que sacrificou grande parte da expedição Fernão Dias Pais e impediu a continuação da exploração.

4º - Em Itacambira é endêmica uma febre de mau caráter (tifo ou paratifo) que se tem manifestado periodicamente, e ainda há pouco vitimou toda uma família dentro do arraial. Revolvido pelos exploradores o grande depósito de germes existentes na lagoa era natural a explosão de epidemias.

5º - A colocação do arraial a pouca distância e a cavaleiro da atual Vargem Grande, na extremidade superior de um espigão, que partindo do sopé da serra vem morrer na dita várzea, está de perfeito acordo com os ditames da razão e da grande experiência do chefe da bandeira que lhe devia aconselhar aquele lugar como mais apropriado para seguro abrigo das pessoas por ele deixadas para zelarem pelo tesouro existente nas águas pestilenciais da lagoa. Abrigo seguro, por estar fora do foco de infecção, em lugar alto o muito arejado e em ótimas condições de defesa contra ataques de índios.

Em 7 de março de 1911, pela bula Commissum Humilitati Nostrae, de São Pio X, Dom Pimenta foi nomeado bispo da nova diocese de Montes Claros. Em 7 de outubro de 1911, Dom João chegava solenemente à nova cidade episcopal. Na Diocese de Montes Claros, Dom João organizou a Câmara Eclesiástica com todo o aparelho necessário, criou quatro novas freguesias: Santa Cruz de Morrinhos em 18 de dezembro de 1913, São Sebastião de Bela Vista, em 28 de janeiro de 1914, São João do Paraíso, em 10 de novembro de 1914 e Nossa Senhora da Extrema, em 8 de outubro de 1919 e reorganizou quatro freguesias: Sant’Ana de Vila Brasília, Brejo das Almas, Santo Antônio de Gorutuba e Bocaiúva.
O primeiro bispo da Diocese de Montes Claros reforçou o clero diocesano com a entrada de 13 sacerdotes, sendo seis portugueses, três italianos, três belgas e
leituum polonês. Em 1914, mandou construir o Palácio Diocesano. A instalação de uma capela episcopal, intitulada Nossa Senhora de Lourdes, numa dependência do palácio, foi outra obra de Dom João Antônio Pimenta na região. Dom João chamou para atuarem em sua diocese os padres redentoristas e os padres lazaristas, instituiu os retiros espirituais para o clero na sede da diocese e projetou e deu início à nova catedral. Dom João Antônio Pimenta morreu com 83 anos, e está sepultado na cripta da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida de Montes Claros. (Wikipédia)
Dom João Pimenta morou na casa de Dona Claudovina Noronha Neves Leão,
em Itacambira, durante um ano.

6º - Os fácies da zona circunjacentes à Vargem Grande, principalmente na parte superior do ribeirão Sujo, é precisamente igual ao descrito por Marcos de Azevedo Coutinho, citado por Claudio Manoel da Costa, Fundamento Histórico do seu poema ‘Vila Rica’ e por V. Excia a página 41 de sua louvada obra, isto é, um terreno de formação aparentemente vulcânica, fortemente acidentado e revolto, sulcado de profundas crostas e socavões.

7º - Da Vargem Grande, se avistam, a leste, em distância aproximadamente de três léguas, as serras da Pedra Pintada e de São Gil da cordilheira do Espinhaço, mais conhecidas‘in loco’ por cordilheira do Grão Mogol.

Estas duas serras, quando verberadas pelo sol da tarde, desprendem reflexos de mica. É possível que nos tempos anteriores fossem ainda maiores estes reflexos, e daí o nome Resplandecente, dado a esta parte da cordilheira pela expedição.

A imaginação popular, prodigiosamente fértil e amplificadora, se encarregou de aumentar os resplendores da serra, e de revesti-la dos encantos da lenda.

NOTA: Estas duas serras são tão unidas que podem ser consideradas, perfeitamente, como sendo uma só.

De tudo quanto levo dito, ressalta com brilhos mais reais e mais intensos que os da Serra Resplandecente, com brilhos de indubitável certeza e evidência que a Vargem Grandeé o local antigamente ocupado pela lagoa Vupabussu.

Com a comunicação desta descoberta feita a V. Excia. em primeira mão tenho em vista homenagear a um dos mais profundos, mais conscienciosos e mais verídicos historiadores da Terra Mineira, a cujo critério histórico se deve em grande parte, esta descoberta, como para ela fluiu não pouco a leituum

ra do Capítulo IV, nº 4, primeira edição da História Antiga de Minas Gerais.

Cui honore, honore.

Digne-se V. Excia aceitar este tributo de justiça, este preito de respeito e culto cívico a um dos beneméritos de nossa terra natal, a querida Minas, este testemunho do mais alto apreço e estima do seu admirador, João, bispo de Montes Claros.

CARTA TOPOGRÁFICA DA LA GOA DO VUPABUÇU

A região de Itacambira foi retratada pelo engenheiro Arthur Jardim de Castro Gomes numa Carta Topográfica, mostrando as suas posições planimétricas e altimétricas do relevo. O trabalho foi uma solicitação do historiador Simeão Ribeiro Pires, para compor explicações sobre a Lagoa do Vupabuçu no
seu influente livro “Raízes de Minas”.

 

Carta Topográfica da região de Itacambira - Serra Resplandecente e dos contornos da antiga Lagoa do Vupabuçu, de autoria do engenheiro Arthur Jardim de Castro Gomes.

 

CAPÍTULO V
A RELIGIOSIDADE DE UM POVO


IGREJA DE SANTO ANTÔNIO DE ITACA MBIRA (1)

“A História da Arte não é apenas uma história de obras, mas também de homens. As obras de arte falam de seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história
da cultura” (Carta do Papa João Paulo II aos Artistas - Paulinas - 1999 - pág. 8).

Nós sabemos e não é novidade que a primeira Igreja de Itacambira foi apenas uma pequena capela, construída no ano 1707. Com a descoberta do ouro na região, nos anos posteriores - possivelmente no ano de 1813 - facultou-se aos moradores a oportunidade de se construir um templo maior, para nele agradecer, pela abundância, em riquezas oferecidas pela nature-

(1) A Igreja Matriz de Santo Antônio foi tombada pelo Iepha. Com homologação do ato em 30 de julho de 1998, a igreja teve sua inscrição lançada no Livro II, do Tombo das belas Artes, no Livro III, do Tombo Histórico e no Livro IV, das Artes Aplicadas.

Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, a Igreja revela em seu interior um altar mor com características icas, compondo um conjunto não encontrado em nenhum outro lugar. Seu estilo é mourisco com detalhes em treliças formando um grande trono. Observa-se também a presença de aspectos chinesices, o que tem intrigado os especialistas, uma vez que, até hoje não é possível saber se tal trabalho foi realizado por um artesão da Bandeira de Fernão Dias, ou se é de responsabilidade de alguma ordem religiosa que se estabeleceu no local ao longo dos séculos XVIII e XIX.

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(Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Marta Verônica Vasconcelos Leite. Montes Claros. Editora Millennium/ Cotrim. 2010. Página 127.)

za mãe/terra. Não há registros, mas devia ter sido construído o novo templo no mesmo lugar de antes, haja vista que assim era a tradição da época.

“Santo Antônio nasceu em Lisboa (Portugal) em 1192, foi batizado com o nome de Fernando que mais tarde trocaria por Antônio. Era filho de pais ilustres: Martinho de Bulhões, cavaleiro do rei Afonso II de Portugal e Maria, aparentada com Failo I, o quarto rei das Astúrias”.

É certo que esse novo templo foi dedicado a Santo Antônio. Em alguns documentos da Igreja encontramos o registro de Santo Antônio de Pádua, o que poderia ter sido no início da mineração, pois havia ali somente portugueses e a tradição fazia colocar-se o nome “de Pádua” (a cidade de Pádua, lugar onde Fernando, já debilitado pela doença, entregou a alma a Deus no dia 13 de junho de 1231, quando tinha apenas 39 anos). Com o passar dos tempos, os brasileiros da gema passaram a dizer tão somente “Santo Antônio”, sem lhe designar o epiteto“de Pádua”.

“Quanto a matriz de Santo Antônio, alguns historiadores dão como data o ano de 1707, época em que foi erguida. Teria os mineiros levantados no plano de um espigão uma capela, dedicando-a a Santo Antônio e aí assentaram o seu arraial...” (Panfleto da Paróquia de Santo Antônio - Itacambira. 2008).

Conforme o Jornal do Brasil, a cidade de Itacambira tem a única Igreja, em todo país, que possui o altar-mor em forma
de pagode chinês. Em vista disso, é comum àqueles que visitam o templo acreditarem que ele teria sido construído por um carpinteiro naval. Sylvio de Vasconcellos escreveu um artigo no

jornal Diário de Minas (Belo Horizonte), em 12 de agosto de 1956, “Um Altar Excepcional”, em que defende a posição de que “se trata de um altar muitíssimo interessante e valioso a atestar a variedade e a extrema riqueza de nossa arte colonial”.

Foi, certamente, durante a parição de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho - de 29 de agosto de 1730 - que os sertanejos de Itacambira, entusiasmados com a beleza das Igrejas do ciclo do ouro, importaram a mão de obra especializada parao refazimento do altar da Igreja, tanto no estilo clássico como nas formas do engenho e da arte que o escultor absorveu das influencias do “pagode chinês” tão distante. Pode-se dizer que se trata de uma obra ímpar, sem similares nas Igrejas de Minas Gerais. A riqueza de detalhes é impressionante, pois ocorre em todo conjunto com as minúcias no recorte da madeira e a harmonia de cores, tanto na nave central como nas colunas laterais. No centro, no alto, a imagem de Santo Antônio que zela pela conservação do templo e dos seus peregrinos.

Na avaliação do jornalista Girleno Alencar, o engenheiro e historiador Geraldo Afonso Gomes é o maior pesquisador sobre Itacambira e fez questão de buscar informações sobre sua cidade natal no Museu Ultramarino, em Lisboa. “O altar da Igreja de Santo Antônio - disse ele - é do estilo Barroco Oriental, pois como Portugal criou colônias no Oriente, como Macau, trouxe artistas daquela parte do mundo para construir igrejas em suas áreas de influência. Isso deixou a matriz de Itacambira com a prerrogativa de ser a única no Brasil a ter um altar construído com base na cultura oriental”.

No ano de 1813, acredita-se que esta data se trata da reconstrução da Igreja, a paróquia de Santo Antônio de Itacambira pertencia ao bispado da Bahia. Já no século XIX ela passou a pertencer a Diocese de Diamantina e por algum tempo a

 
(2) Frei Clemente de Adorno visita a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Rio Pardo de Minas, em 1793. Ele foi envenenado a mando de Maria da Rosária, de Tremedal (Monte Azul). Morreu na fazenda São Bartolomeu, em 1806, e foi enterrado na Igreja de Rio Pardo de Minas. (Frei Clemente de Adorno: o missionário de Deus. Dário Teixeira Cotrim. Rio Pardo de Minas. 1999).

matriz de Itacambira foi sede das paróquias de Montes Claros de Formigas, Serra do Gram Mogor (Grão Mogol) e Brejo das Almas (Francisco Sá).

OS PADRES PIONEIROS

No princípio da colonização do interior brasileiro, os padres portugueses foram a grande sensação daquele momento. As missões dos tempos de outrora tinham um caráter evangelizador, principalmente com relação aos gentios. É sabido que o Frei Clemente de Adorno(2) - o missionário de Deus - esteve em Itacambira e região, no período de 1799 a 1803 com a missão de evangelizar os índios e levar a palavra sagrada aos fiéis da Igreja Católica. Na prática, os padres pioneiros sabiam das dificuldades que iriam enfrentar, mas nunca desanimavam da tarefa de servir ao Senhor.

1752-1772 - O padre Jeronimo Macedo Portugal
1772-1774 - O padre Felipe Santiago Rocha
1775 – O padre José da Costa Guimarães
1776 - O padre Diogo Torres Barbosa
1814-1831 - O padre Euzébio Antônio dos Santos
1836-1837 - Os padres Marcos Matias e João dos Santos Coimbra
1872 - O frei Francisco da Cunha Cabral
1876-1894 - O padre Domingos Moura dos Santos
1886 (11/05) a 1892(02/07) - O padre Domingos Pimenta de
Figueiredo;
1891 - O padre Domingos Pimenta de Figueiredo
1892 - O padre José de Carvalho

1894 - O padre Hermógenes Genésio de Almeida
1895 (11/08) - Padre Domingos Moreira dos Santos
1897 (22/08) - José Pimenta de Carvalho
1897 (22/08) - voltou o Pe. Domingos Pimenta de Figueiredo. 1899 - O padre José Francisco de Carvalho, até 07/09/1899. 1899 até 1905 - Volta o Pe. Domingos Pimenta de Figueiredo. 1905 - O padre Carneiro
1905-1911 - Novamente o padre Domingos Pimenta de Figueiredo até 1911
1911-1912 - O padre Marcos que faleceu em Itacambira.
1912-1913 - O padre Bento para fazer as Festas do Sacramento. 1913-1920 - O padre Manoel Francisco Calado, que passou a residir em Itacambira, no Sobradão de Joaquim Ferreira Leal, até 1920. 1920-1921 - O padre Sidônio que ficou por tempos intercalados até o ano de 1921.
1920 - O padre Manoel Antônio Luiz
1921 - O padre Salustiano Francisco dos Santos, até 1944.
1921-1929 - O padre Augusto Prudêncio da Silva que visitava constantemente a paróquia de Santo Antônio de Pádua.
1944 - O padre Sebastião Geraldo de Queiroz. Depois deste passou a frequentar a freguesia os padres da ordem premonstratenses: o padre Alderico e cônego Augustinho.
1950 (15/08) - O cônego Gilberto M. Krauser, que ficou em Itacambira até 1952.
1952 - O padre Oswaldo Simões, até 1966.
 
 

OS PADRES PROGRESSISTAS

Era necessário uma transformação radical na Igreja Católica.
Uma renovação nos seus conceitos para que a Igreja pudesse sobreviver, o que chamamos de “era da tecnologia”, sem o retrocesso das cicatrizes do passado. Aliás, todo o processo de desenvolvimento foi benéfico para a população e a Igreja Católica teve um papel fundamental em todos os sentidos, zelando de maneira corajosa e firme, o seu rebanho. Assim, os padres progressistas se empenharam na criatividade e no dinamismo de suas atividades religiosas. A cidade de Itacambira ainda vive esse momento com grande furor.

Padre José Gabriel
Padre José Osanan de Almeida Maia
Padre Geraldo Majela de Castro
Padre Domício de Melo Rocha
Padre Antônio Brígido de Lima
Padre Samuel de Jesus Duarte
Padre Honório de Andrade
Padre Ailson Bessa Cavalcante
Padre Gilmar Soares Martins (Padre Mazinho)
Padre Jorge Luís Hugrey

Altar-mor da Igreja de Itacambira

300 ANOS DE EVANGELIZAÇÃO

Maria da Consolação Leão Ferreira (Nana Leão)

1 - A LENDA DA MÃE D’ÁGUA : IARA

Nas serras gerais, bem no interior do Brasil,
Onde os índios Botocudos habitavam
Existia ali uma lagoa Vupabuçu e uma lenda
Da Iara Mãe d’Água que os gentios tanto amavam.
Conta a lenda que a sereia possuía
Cabelos longos cor de esmeraldas.

Tinha um palácio de pedras preciosas
No fundo da linda lagoa encantada.

Claudovina Noronha Neves Leão

__________
PEDIDO DE
SOCORRO

Foram encaminhadas para as autoridades competentes, quatro correspondências solicitando a intervenção imediata do poder público na preservação da Igreja Santo Antônio de Itacambira.
Todas as correspondências tiveram data de nove de fevereiro de 2004 e foram assinadas por Claudovina Noronha Neves Leão.

Na verdade trata-se de um apelo individual às autoridades competentes sobre a recuperação do maior bem da cidade de Itacambira; a Igreja Santo Antônio de Pádua. As correspondências foram direcionadas ao ministro da cultura, Gilberto Gil; ao governador do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves; ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e ao Dr. Fabiano de Paula, superintendente Regional de Minas Gerais, no sentido que fossem tomadas as devidas providências para a recuperação do templo. Infelizmente nada foi feito naquele momento que pudesse suavizar o sofrimento dos fiéis da paróquia. Entretanto o restaure do imóvel foi feito no ano (...) sob a supervisão do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.

2 - A EXPEDIÇÃO DE FERNÃO DIAS PAIS

No correr do tempo, no século XVII
Pelas pedras verdes os portugueses foram atraídos.
Organizando as expedições das Bandeiras
De São Paulo, para Minas, partem destemidos.
Fernão Dias Pais (Leme), o grande chefe
Da formosa e gloriosa expedição.
Rumo à lagoa, na Serra Resplandecente
Coloca toda sua bravura e ambição.
A bandeira entre a cruz e a Espada
Conduzia também missionários da oração
Para ensinar e transmitir os bons costumes
Aos povos que não tinham o sinal de Cristão.

3 - FERNÃO DIAS PAIS

Tomando posse da terra, Fernão Dias
Regressa a São Paulo, junto ao Governador,
Ao invés de levar as esmeraldas tão sonhadas
Carrega consigo turmalinas sem valor.
Parte deixando as minas sob o comando
De um tal de José de Castilho.
E adiante do milagre da fé
A catequese foi tomando maior brilho.

4 - A IGREJA DE SANTO ANTÔNIO

Em 1707, para maior vivência cristã,
No pé da serra é erguida uma capela.
Em honra de Santo Antônio glorioso
E no trono colocar sua imagem bela!

A partir desse tempo, então,
Veio surgindo uma grande devoção.
Festas de Santo Antônio e do Divino
Motivo de grande confraternização.
Por muito tempo a nossa Igreja Matriz
É irmã de muitas outras igrejas.
Grão Mogol, Montes Claros, Francisco Sá
Mostrando com humildade a sua realiza.
Em 1813 a Igreja é elevada a Paróquia
Para mais fé, mais vida e unidade.
Levando o povo a ser Igreja Gente
E as capelas a serem comunidades...

RELATO DO PADRE JOSÉ OZANAN

A Boa Nova proclamei com alegria.
Deus vem a nós, Ele nos salva a nos recria.
E o deserto vai florir e se alegrar
Da terra seca, flores, frutos vão brotar...

A minha passagem pela paróquia de Santo Antônio em Itacambira, da Semana Santa de 1978 a julho de 1986, foi uma experiência riquíssima e consoladora na minha vida de padre.

Quando na Quinta-feira Santa ali cheguei, não imaginava nem de longe, o que iria acontecer. Tinha uma certeza: a graça de Deus sempre nos precede. Isto pude experimentar quando em 1975 ali estive com o Dom Geraldo Majela de Castro, então padre Geraldo, para iniciarmos o

AO INSTITUTO
ESTADUAL DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO E
ARTÍSTICO DE MINAS
GERAIS – BELO HORIZONTE/ MG
Prezados Senhores, Venho por meio desta, relatar o pedido de ajuda que fiz ao Ministro da Cultura sobre a Matriz de Itacambira–MG.
Em anexo vão cartas que recebi do Ministro da
Cultura que encaminhou meu pedido de ajuda para
os senhores.

Em resumo, trata-se da Matriz de Santo Antônio de Itacambira, que é tombada pelo estado de Minas gerais e que precisa urgentemente de atenção, pelo seu valor histórico como já foi relatado por carta, em anexo.
Além de todo o valor histórico e artístico, a Matriz de Itacambira é destacada
na obra “Grande Sertão – Veredas”, de João Guimarães Rosa. O recém criado “Circuito Turístico Guimarães Rosa, juntoà Secretária de Turismo do Estado está propondo um roteiro para Itacambira.
O estado precário de conservação da Matriz será uma vergonha para os habitantes e para o Brasil, que não conserva seu patrimônio.
Esperando providência urgente agradeço a atenção com esperança de ser atendida.
Atenciosamente Claudovina Noronha Neves Leão

culto dominical e começar um trabalho de organização de comunidade.

Naquela época pudemos perceber no povo um desejo de participação e organização.

Devido à situação geográfica, na serra e sem boas vias de acesso, Itacambira estava isolada, parada no tempo, mas vivendo um passado mais glorioso que o presente.

Num primeiro momento me vi mais envolvido com os trabalhos de reforma da Igreja-templo, iniciado pelo padre José Gabriel, de Carbonita, e os problemas daí derivados. Numa cidade onde a gente percebia profundas divisões, tentamos aproximar as pessoas através do Encontro de Casais com Cristo e seus pequenos grupos. De início alguns casais fizeram o encontro em Montes Claros, depois montamos um Encontro em Itacambira, houve frutos, mas infelizmente não foi possível ir muito longe.

Em 1980 tivemos em Juramento a 1ª Assembleia de Comunidade de Base, com a participação de Itacambira. Daí pra frente as coisas foram mudando. Vieram as missões pregadas pelos Padres Redentoristas, numa linha nova, procurando fortalecer os grupos de base.

Também a presença na pastoral das Irmãs Carmelitas da Divina Providência que mais tarde iriam residir por dois anos em Itacambira, foi outra dádiva de Deus.

Em Itacambira e no interior, a catequese foi se organizando e grupos de jovens foram criados, os grupos de reflexão se multiplicando. Aconteciam Encontros das Comunidades, dos seus líderes, dos coordenadores de grupos, plenários etc.

Na linha das comunidades de base, refletíamos a fé, mas procurávamos uma interação entre a fé e a vida. Refletí-

amos sobre a Igreja, sacramentos, organizamos cursinhos bíblicos, mas também estudávamos a responsabilidade do cristão na sua vida social, política profissional. As pessoas foram então se organizando não só em nível de Igreja, mas também como comunidade humana. O seu desejo de participação era trazido em atos participativos e comunitários.

Deus recriava o seu povo! Flores brotavam, frutos amadureciam! Era uma floração colhida na alegria do anúncio
da Boa Nova.

Hoje o D. Geraldo Majela de Castro, nosso Bispo Diocesanoé quem atende a Paróquia, fazendo às vezes de pároco, devido a falta de padres na nossa Diocese. Continua ele o trabalho de comunidades, que se multiplicam cada vez mais.
Assim o Evangelho é anunciado aos pobres do Reino, que se
tornam instrumento e sinal da salvação de Deus!

Deixei em Itacambira muitos e grandes amigos, que trago sempre presente no meu coração e nas minhas orações. Deus me é testemunha de quanto amei e amo aquele povo. Amei a todos, sem exclusão de nenhum. Por todos entreguei a minha vida por oito anos de trabalho pastoral, até quando tive que ir para Roma, continuar meus estudos. Aqui deixo meu agradecimento sincero, que virá a público, a todos os meus ex-paroquianos e, sobretudo, aos meus irmãos e amigos de Itacambira. Que Deus os abençoe a todos por tudo que recebi de vocês, e “Ele que é rico em misericórdia, e de quem procede todo bem e toda a graça, abençoe a todos com toda a sorte de bênçãos espirituais”. Assim seja! Padre José Ozanan.

 
_________
(3) Juliana Quech e Tatiana
Domingues – restauradoras da Igreja de Santo Antônio.
(Informativo Paroquial. Ano I – nº 1 – outubro de 2008).

A JOIA DE ITACA MBIRA(3)

A idade da Igreja Matriz de Santo Antônio (Itacambira – Minas Gerais) não pode ser definida com exatidão, mas supõese que sua construção teve início durante a primeira metade do século XVIII, pois já neste período a paróquia encontrava-se construída, e pertencente ao bispado da Bahia. Existem alguns
livros remanescentes do arquivo paroquial, entre os quais o mais antigo – um Registro de Batizado, datado de 1751.

O estilo de sua construção é o colonial português, típico da época. Suas paredes internas são de taipa de pilão e as externas são de pau-a-pique. Por dentro, sua estrutura não segue o padrão normal do período, que contém nave, presbitério e capela-mor. Aqui encontramos uma nave única e largos corredores. Mas é no altar que percebemos sua maior riqueza. Ao entrar na Igreja nos deparamos com a grandiosidade de seu trono, que não apresenta um estilo especifico, e possui características da arquitetura oriental, não se tem registro no Brasil de nada semelhante, o que lhe confere uma exclusividade que se torna digna de ser chamada “A Joia de Itacambira”. Sua peculiaridade do tratamento técnico merece atenção especial, pois se distancia dos modelos eruditos. Trata-se de uma estrutura arquitetural em três dimensões, que avança sobre o interior da Igreja, e chega a simular a existência de presbítero e capela-mor.

Por toda sua composição observa-se intensa decoração por detalhes extremamente bem feitos, de bons encaixes e acabamento técnico, denunciando a habilidade e a perícia de seu autor, que infelizmente não se tem registro de quem seja.

 

CAPÍTULO VI
AS MÚMIAS DE ITACAMBIRA

UM ENIGMA DO TEMPO

As múmias de Itacambira são, até hoje, misteriosas. Não temos ainda um estudo realizado por técnicos competentes para explicar a origem dos corpos mumificados que se encontram no porão da Igreja de Santo Antônio de Itacambira. Várias foram as tentativas de elucidação dos fatos por historiadores da região e alhures. Dentre eles podemos citar os engenheiros Simeão Ribeiro Pires e Arthur Jardim de Castro Gomes. Não menos importante, também o escritor João Valle Maurício, que elaborou textos e mais textos tentando justificar a existência daqueles corpos amontoados debaixo dos assoalhos da Igreja. (1)

Disse o jornalista Fernando Zuba, do jornal Hoje em Dia, que um mistério imerso na bruma do tempo intriga os

(1) Defensor da tese de que os mortos teriam sido vítimas de um choque armado entre bandeirantes e garimpeiros - pois quase todos os corpos apresentam perfurações no crânio, talvez provocado por armas de fogo - admite que as múmias podem ter sido enterradas em uma situação de emergência. (Jornal do Brasil).
(2) “Ainda Sem Estudo o Mistério das Múmias de Itacambira”. Jornal do Brasil. Texto dos jornalistas Maurício Pessoa e Waldemar Sabino.

moradores da cidade de Itacambira. Na década de 1950, o rompimento do piso de madeira da velha e tricentenária Igreja de Santo Antônio, revelou a existência de um porão onde foi encontrado mais de uma centena de corpos mumificados de homens, mulheres e crianças. Disse mais Fernando Zuba que durante anos, historiadores, pesquisadores, estudantes e habitantes da própria cidade e de regiões vizinhas, ancorados em rumores de que os corpos mumificados seriam removidos do local para pesquisas científicas, acabaram por danificar as peças. O que sobrou continua sob o assoalho da igreja, mas como um amontoado de ossos humanos desconexos, incluindo mais de cem crânios.

Atendendo solicitação dos jornalistas do Jornal do Brasil, Maurício Pessoa e Waldemar Sabino, o Dr. João Valle Maurício
disse-nos que “as múmias tanto podem ser de bandeirantes como de antigos habitantes do povoado”. Com relação aos componentes da expedição de Fernão Dias Pais, descartamos essa possibilidade, haja vista que nem existia ainda a Igreja onde pudessem efetuar os sepultamentos dos cadáveres. Entretanto, com a invasão dos paulistas no início do século XVIII, provocando a “Guerra dos Papudos” na disputa das minas encontradas, pode, sim, centenas de cadáveres serem depositados no porão da Igreja de Santo Antônio, construída provavelmente no ano de 1707. (2)

Analisando o que disse o Dr. João Valle Maurício: “Consegui licença do arcebispo de Montes Claros e me deparei com cerca de trezentos cadáveres. Os corpos apresentavam boas condições de conservação no tecido facial e os genitais ainda perfeitos e alguns ainda tinham restos de roupa e de sapatos”.

- “O respeito às coisas da Igreja” - contou o Dr. Maurício.“Impediu-me de tocá-los”. “Eles encontravam amontoados em uma

aparente vala como se tivessem sido ali despejados. Indaguei o mais que pude das pessoas do lugar, procurei os moradores mais antigos entre os quais o Senhor Neném Bicalho. Disse-me ele que seu avô, quando ele ainda era criança, já falava sobre a existência dos corpos o que assegura pelo menos150 anos as múmias”. (3)

A história nos conta que, através do tempo, as Igrejas serviram para enterrar pessoas. Eram elas cemitérios. A Igreja de Santo Antônio de Itacambira, a exemplo das outras existentes no interior do país, certamente que foi utilizada com esse mesmo objetivo. Não obstante essa nossa firmação, é sabido também que nas imediações dos templos religiosos a existência de cemitérios em sua volta era fato comum. Assim aconteceu com a Catedral Nossa Senhora Aparecida, de Montes Claros, onde foi demolido o Cemitério Católico que no passado ocupava um quarteirão inteiro em frente à Praça da Catedral.

Muitas histórias sobre a mumificação dos cadáveres da Igreja de Santo Antônio de Itacambira foram catalogadas pelo historiador Simeão Ribeiro Pires. Algumas delas estão transcritas no seu livro “Serra geral: Diamantes, Garimpeiros e Escravos” e, que agora façamos ilustrar este nosso trabalho uma dessas histórias, de um ilustre informante, que assim relatou:

- Era até comum e de mau gosto, há muitos e muitos anos, serem retirados alguns corpos dos porões, então abertos por ocasiões das serenatas, de grandes libações alcoólicas, e colocados de pé, encostados às portas de entrada de algumas residências.

Na manhã seguinte recebiam os moradores o abraço das múmias (cadáveres mumificados) que se desequilibravam para o interior, ao serem abertas as portas bem em cima dos desprevenidos madrugadores.

(3) Entrevista com o doutor João Valle Maurício. Montes
Claros - MG.

(4) Serra Geral: Diamantes, Garimpeiros e Escravos. Simeão Ribeiro Pires. Página 120.


(5) Serra Geral: Diamantes, Garimpeiros e Escravos. Simeão Ribeiro Pires. Página 121.

Ao longe, pelas frestas de portas e janelas, os autores da deplorável brincadeira mortuária não se continham as risadas. (4)

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. E foi assim que um dia, o professor Arthur Vale Campos, da cidade
de Grão Mogol, fez a seguinte observação: - “Desde menino, contava meu velho pai, que um antigo vigário de Itacambira, há mais de cem anos, objetivando embelezar a porta de entrada do templo, principalmente para as realizações de festas, resolveu demolir um velho cemitério ali existente. Em tal ocasião foram encontrados os corpos mumificados e foram recolhidos ao porão da Igreja de Santo Antônio de Itacambira”. (5).

Numa conclusão lógica, a Revista Ciência Hoje - número 3, novembro/dezembro de 1982 - registrou que as múmias retiradas dos porões úmidos e escuros da Igreja de Santo Antônio de Itacambira estão agora em merecido destaque de cunho científico, pois elas jazem no Museu da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Aliás, lugar melhor não havia de existir para a conservação e preservação dos cadáveres. Hoje somos testemunhas oculares do respeito e da conscientização do povo itacambirense com as suas lendas e tradições. A memória do grande bandeirante Fernão Dias Pais é cultuada como sendo o fundador da cidade de Itacambira, o que a isso somente faz justiça por perlustrar o brilho do horizonte outrora perdido.

CRÔNICAS NO TEMPO

Para ilustrar e, ao mesmo tempo, enriquecer esse nosso trabalho sobre a história primitiva de Itacambira, vamos reproduzir neste Capítulo duas crônicas sobre o misterioso caso das

múmias que estão sob o assoalho da velha Igreja de Santo Antônio,de Itacambira. A primeira traz assinatura do médico legista do Dr. João Valle Maurício e a segunda do cronista Ramiro Lage (Gerente da Revista Acaiaca). Essas crônicas foram publicadas na Revista Acaiaca - Belo Horizonte - agosto de 1953.
 

Múmias de Itacambira - Foto de João Valle Maurício

João Valle Maurício, nasceu em Montes Claros (MG), em 26 de abril de 1922.
Diplomado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Belo Horizonte em 1946 com especialização em Cardiologia. Reitor da Fundação Norte Mineira de Ensino Superior. Secretário de Estado da Saúde de Minas Gerais. Membro da Academia Municipalista de Minas Gerais, da Academia Mineira de Letras e ex-presidente da Academia Montesclarense de Letras. Maurício tem os seguintes

MORT OS ESQUECIDOS (6)

João Valle Maurício

Fatos existem que, por suas características, nos espicaçam a curiosidade e nos fazem um convite insistente a pensar e levantar hipóteses.

Visitando recentemente a vizinha localidade de Itacambira, onde, como todos sabem, está localizada a famosa e histórica Serra Resplandecente, ouvimos, entre outras coisas, uma que mais nos impressionou. Falavam os moradores que, sob o assoalho da austera e colonial Igreja - uma das primeiras construídas neste sertão, existiam “muitos cadáveres inteiros”. A afirmativa era categórica e unanimemente apoiada pelos habitantes mais antigos. Resolvemos, pois, com a devida permissão, de ver para crer. Retiramos cuidadosamente algumas tábuas do assoalho da sacristia e por lá penetramos na escuridão úmida do porão. Ao focarmos as lanternas e acendermos as velas, verificamos a verdade das informações: existe realmente ali uma macabra mixórdia - uma tétrica profusão de crânios, troncos, braços, tíbias, enfim, os destroços de uma verdadeira multidão. Podemos assegurar que há ali mais de 200 crânios e os restantes ossos são incontáveis.

O mais interessante, entretanto, é a existência dos troncos braços e pernas, nos quais a pele, restos de músculos e cartilagens, ainda se encontram. Tiramos a fotografia de um tronco inteiro, tendo ainda fechado o abdômen. Os ossos dispersos pelo chão estão limpos, lisos e íntegros, numa veemente afirmação de que jamais foram soterrados. A terra não exerce certamente sobre eles sua completa ação de voragem, que faz consumir em poucos anos os corpos que recebe e que realmente a ela pertencem.

Verificamos que os ossos não são só de adultos. Muitos são de adolescentes, encontrando no meio deles um braço quase em perfeito estado. Em face de tudo isto nós permanecemos na hipótese:

1 - Foram enterrados em outro lugar e para ali levados posteriormente? Não é possível porque então não existiriam restos de pele, músculo e cartilagens e os ossos mostrariam os
estragos da terra,

2 - Foram colocados ali aos poucos, à medida que iam morrendo? Não é possível porque a população não toleraria tal e o mau cheiro seria insuportável.

3 - Como se explica tão grande número de mortos para um lugar onde a população era, e ainda é, muito pequena? 4 - Duas pessoas das mais velhas da região (com idade de 84 anos) não sabem da procedência daqueles corpos. Ninguém conhece a história deles. Deduz-se, assim, que os mesmos ali estão pelo menos há mais de 70 anos. E ainda com pele?

5 - Será que algo era juntado aos corpos para impedir a putrefação? Alguns entendidos já disseram que aqueles corpos
são resultados de conflitos entre soldados e garimpeiros, quando os primeiros iam fazer cobrança de impostos aos segundos.

Quem sabe algo sobre aquela multidão esquecida?
Quem sabe se naquele amontoado de corpos, sem história e
sem origem conhecida, não estarão muitos heróis dos caçadores de esmeraldas? Muitos beneméritos da civilização sertaneja? Quem sabe?

livros publicados: Grotão,
Taipoca, Pássaro na Tempestade,
Rua do Vai Quem
Quer, Janelas do Sobrado e
Beco da Vaca. Morreu o poeta
no dia 23 de março de
2000. (Wikipédia)

 

 

 

(6) João Valle Maurício.
Revista Acaiaca. Belo Horizonte.
Agosto de 1953. Páginas
136/7.

 

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(7) Ramiro Lage. Revista Acaiaca. Belo Horizonte. Agosto de 1953. Páginas 138/40.

O MISTÉRIO DE ITACA MBIRA (7)

Ramiro Lage

Sem vocação “Sherloquista”, sem pretensões a oráculo, apaixonado que sou por tudo ligado à História do Brasil, tive a minha atenção despertada pela última interrogação formulada pelo ilustre pesquisador Dr. João Valle Maurício, em seu substancioso artigo “Mortos Esquecidos”.

No emaranhado do mistério, no terreno das hipóteses, sem provas concretas que, no caso, só um minucioso exame de laboratório poderá nos fornecer, não pretendo mais que pene-

trar na densa treva com um pequenino lume da intuição. Para isto consultei a história, rebusquei alfarrábios, recorri à memória, fiz tudo enfim, visando convergir a atenção dos leitores para a hipótese de serem os “Mortos Esquecidos” de Itacambira os destroços de uma bandeira ou de um grupo de aventureiros, vítima de uma cilada dos índios Tapuias, que dominavam aquela região no tempo da colonização mineira.

Ligando os fatos, farei uma ligeira digressão, recordando uma magnifica excursão que fiz às margens do Araguaia, em Goiás, no ano de 1947, satisfazendo inteiramente ao meu espirito de aventura, ao desejo que sempre tive de conhecer de perto àqueles que primeiro habitaram o solo pátrio. Instruído por amigos que já haviam entrado em contato com os índios civilizados das aldeias do S.P.I. (Serviço de Proteção aos Índios), munido, não de armas, mas, de presentes que eles mais gostam, (cachaça, fumo, cachimbos, isqueiros, espelhos, bijuterias, etc.) em menos de uma semana consegui captar inteiramente a simpatia e a confiança dos nativos das tribos Xerens e Carajás que, sob as vistas do S.P.I., ali já vivem como gente, trabalhando, produzindo, aumentando a prole, num exemplo dignificante dos ensinamentos cristãos. Naquelas paragens encontrei-me com um paulista, mais ousado do que eu, que se embrenhou um pouco mais pelas florestas de Mato Grosso, trazendo, em sua bagagem de aventureiro, objetos e curiosidades que não consegui nas aldeias dos Xerens e Carajás. Dentre as coisas que mais despertaram a minha atenção, lembro-me ter visto um jaburu (ave aquática) morto e dissecado, de tal modo pousado numa forquilha que, à primeira vista, parecia estar vivo. Intrigado com o fato e sem uma explicação satisfatória do colega de aventuras, indaguei de Noromenquá, um dos mais velhos dos Carajás, em linguagem que ele pudesse compreender: como ín-

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“A matéria putrefaciente de alguns desses corpos não foi digerida pela terra por causa do solo arenoso, extremamente rico em mica branca e por certo outros elementos químicos, os quais tornaram impossível a ação das bactérias pertinentes”. (Leonardo Álvares da Silva Campos - O Mistério das Múmias de Itacambira.
Jornal Hoje em Dia. Belo Horizonte).
 

dio faz para secar jaburu inteiro? E o velho pescador respondeume prontamente: “Irmão branco não sabe? - Índio manda flecha untada de curare e o bicho para o voo com qualquer estocadinha...
Índio apanha, abre no papo, limpa, enche de paina e jaburu seca depressa”.


Naquele instante eu havia aprendido mais um segredo sobre a curiosa vida dos selvagens, com seus usos e costumes tão diversos dos nossos. Até então sabia eu que o curare é um veneno violento por eles extraído de planta da flora brasileira e que mata ao contato do mais ligeiro ferimento, causando paralisia total e imediata do sistema nervoso. Acrescentei aos meus apontamentos que o curare possui também propriedade mumificantes, tornando o cadáver, cuja vida ele ceifou, inatacável por qualquer espécie de verme destruidor.

Reunindo os dados, de novo, em busca do fio da meada, ao ler atentamente a “Monografia Histórica, Geográfica e Descritiva de Montes Claros”, de Urbino Vianna (páginas 36 a 38) encontrei Itacambira no roteiro do bandeirante Antônio Gonçalves Figueira, o mesmo que antes havia acompanhado Fernão Dias Pais Leme às formosas terras do Vupabuçu e que agora vinha em companhia de Matias Cardoso, seguindo a mesma rota, rumo à lendária Serra Resplandecente. Partiram eles das margens do São Francisco e, após devassarem o sertão bravio, fundaram na primeira década do século XVIII as fazendas de Jaíba, Olhos d’Água e Montes Claros. Entre os inúmeros obstáculos que venceram, fala-nos Urbino Vianna dos combates e conquista final das tribos da raça Tapuia, “que dominavam as margens da Vargem Grande e seus afluentes da região Gorutubana”.
Pela narrativa do historiador não se pode duvidar dos violentos choques havidos entre os bandeirantes invasores e os nativos Tapuias - que defendiam por todos os meios a terra que

lhes serviu de berço. E tudo me faz acreditar que os mais sérios combates foram travados na localidade de Itacambira ou em suas imediações, onde se encontra a Serra Resplandecente tão cobiçada pelos antigos “caçadores de esmeraldas”.

Baseado apenas em minhas anotações sobre a vida dosíndios, sem nada poder afirmar por absoluta falta de provas, creio intuitivamente na hipótese de serem os “Mortos Esquecidos”, de Itacambira os destroços de uma bandeira ou grupo de aventureiros.

E então os mortos em combate ou envenenados à traição? Esta última forma se me assegura mais viável, por um forte motivo: os índios, com inferioridade em armas, temiam os bacamartes dos brancos e evitavam sempre a luta em campo
aberto. Quando, levados pela fúria, arremessavam-se contra os invasores, em luta desigual, o faziam munidos de borduna, uma espécie de cabo de machado feito de madeira pesada, (jacarandá, braúna, etc.) deixando em frangalhos a presa que acertavam. No caso de Itacambira os crânios e demais ossos estão íntegros, perfeitos, como constatou o ilustre médico Dr. João Valle Maurício.

Formulo então a hipótese de ter algum pajé (curandeiro e conselheiro indígena) da raça Tapuia se utilizando do curare
- como foi dito, veneno violento com propriedades mumificantes - adicionando-o em alta dose a água ou alimentos de algumas dezenas de brancos que houvesse escravizado a sua tribo, matando-os incontinenti. Os remanescentes do grupo, salvos, talvez, pela ausência temporária, em caçadas, etc., ao chegar, não tiveram calma para sepultar os seus companheiros de jornada e, deixando-os guardados para sempre sob o assoalho da secular Igreja, fugiram apavorados ante a extensão do sinistro.

 
 
Todavia, no terreno das hipóteses, na profundeza do enigma, acreditando intuitivamente, considero racional a interrogação de Dr. João Valle Maurício: “Quem sabe algo sobre aquela multidão esquecida?” - Ninguém. O que realmente existe em Itacambira não é um fato comum de fácil explicação. Tratase de um mistério insondável, desses que desafiam a argúcia dos homens e que só a Deus é dado saber.

CAPÍTULO VII
CULTURA E TURISMO


NOSSA LITERATURA

A arte literária aflora com o desejo de se manifestar nas letras para cantar e encantar as emoções de um grande amor, ou as belezas sem fim da natureza dadivosa. Apesar de para tanto ser preciso importar ideias, podemos afirmar, com a devida segurança, que a região de Itacambira sempre inspirou aos seus poetas a composição de versos e de crônicas, haja vista a sua riqueza cultural, religiosa e histórica. Em vista disso, estamos publicando neste capítulo algumas produções de artistas da terra. De nodo geral, as nossas tradições e os nossos costumes têm muito de alhures, o que não poderia ser diferente. Entretanto, as nossas raízes fincadas ao pé da Serra Resplandecente, ou naufragadas nas águas verdes da Lagoa do Vupabuçu, somente enriquece a nossa literatura.

(1) O poema “Itacambira” é uma homenagem do Dr.
Milton Leão Coelho, falecido no dia 26 de dezembro
2002, aos 92 anos de idade,à sua cidade natal. Ele
foi o primeiro itacambirense a formar em medicina,
em 1940. Além de ter sido um grande médico, o Dr.
Milton Leão Coelho foi um grande intelectual e poliglota, e levou sempre no coração o nome de sua terra. A
estrada que liga Itacambira a Montes Claros foi construída numa força tarefa do Dr. Milton Leão Coelho e a população de Itacambira


Milton Leão Coelho

com a prefeitura de Montes Claros (Capitão Enéas Mineiro de Souza) e o Governo do Estado (Milton Soares Campos).

PEQUENA ANTOLOGIA POÉTICA

ITACAMBIRA(1)

Milton Leão Coelho

Minha Terra, tu és assim...
Toda cheia de Belezas,
És um paraíso, enfim...
Disso temos a certeza

Quando à noite, lua clara,
Se no dia, sol ardente,
No horizonte se depara
A Serra Resplandecente.

Itacambira, querida
Quero ver tuas montanhas,
Quero ter uma guarida
Encerrada em tuas entranhas.

Contemplando a serra histórica
A compor teu horizonte,
Há de ver que lá, heroíca,
Imagem do bandeirante!

Fernão Dias das Bandeiras...
O destino e uma mentira,
Descobriram, altaneiras,
As serras de Itacambira.

ITACAMBIRA SEUS MISTÉRIOS E BELEZAS

Maria da Consolação Leão Ferreira (Nana Leão)

É para seus filhos a terra predileta
Envolvida em segredos, sonhos e magias,
Seus cantos, lendas, histórias encantadas,
Encheram nossa infância de riso e fantasias.

Algo fúnebre, triste, alegre e engraçado
A sua história relata coisas misteriosas,
Da Lagoa Vupabuçu, índios e bandeirantes,
Do assoalho da Igreja, múmias assombrosas.

Seu folclore é muito rico, basta uma pesquisa
Muitas lendas e verdades da escravidão.
Cantigas de ninar, danças, brincadeiras de roda,
Cultura que merece carinho, estudo e atenção.

A natureza é um ninho cercado de montanhas
Que exala suave perfume em tardes primaveris.
É lugar aconchegante, belo e privilegiado,
Um dos mais lindos, em todo nosso país.


Nana Leão


“Sertão é todo mundo, mas Itacambira é só ali nos meridianos 42 e 43 - graus Oeste. Está tudo lá fantasiado
de mistério: a gendarmaria
medievalesca, o acicate apontado para a lua, os artesãos, os ciganos, os que morreram mais de uma vez, as aves noturnas espetadas na moreia,, os estandartes estendidos ao longo das serras... Enigmas que ninguém quer decifrar”. Narciso Silva Durães

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(2) Narciso Silva Durães, poeta da cidade de Salinas,

QUARTET OS DE ITACA MBIRA (2)

Narciso Silva Durães

Porque se ergue uma noite
Nos paredões atalaia.
Vigílias acesas de pedra
Das serras de Itacambira.

As caravanas do inferno
Vão na planura do chão
Jazigos, sinos de pedra
Das serras de Itacambira.

Noite veloz do sertão
As armaduras perdidas,
Perfil de lobo na rua
Da noite de Itacambira.

E se reparte em metais
No dorso lilás da montanha
Noite, retinas da urze
Girando no meu coração.

Nada além dos guerreiros
Cegados de sabre e rubis
Que o mais nicho deserto
Vazio cevado de nada.

ITACAMBIRA (3)

Rodrigo Bicalho Teixeira

Para a minha Itacambira
Para os amigos de outrora
Companheiros do menino
Para aquelas montanhas
Pedra pontuda que sai do chão.

Para os barrancos, bananeiras,
Para a escola e brincadeiras
Caminho e alvo, desde então
Pedra cismada, presa na mão.

Para o lugar natural
Para as minhas palmeiras
Para os caminhos sem solidão
Pedra pontuda que prende atenção.

Para todos os seus quintais
Para o frio que aquece
No meu coração
Pedra pontuda que me tira do chão.

escreveu um livro com o título “Olhos de Itacambira”. Não são poemas sobre a cidade, mas sobre a região de
Itacambira, principalmente a Serra de Itacambira. Vajamos apenas duas trovas do poema “Quartetos de Itacambira”:


Rodrigo Bicalho Teixeira

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(3) Poema do itacambiramg.
blogspot.com.br


Eliane Vicky

(4) Poema do itacambi- ramg.blogspot.com.br

ITACA MBIRA DE ENCANTAR (4)

Eliane R. Silva (Vicky)

Itacambira...
Você é um doce vício
Um belo vilarejo que tem casas e tem pomar,
Lugar...
Onde o povo é conhecido
E tudo é tão bonito e bom pra gente se alegrar
Ah!

Itacambira é uma donzela,
Bela, idosa e formosa de encantar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Todo dia,
Se na Matriz o sino tocar,
É convidando o povo para vir junto rezar.
Aqui
É terra do cristal e povo muito unido
E das águas a rolarem
Ah!

Itacambira é uma donzela,
Bela, idosa e formosa de encantar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.

Nosso passado...
É tão encantador
Que até o Fernão Dias veio aqui se arranchar.
A olhar...

E ver tanta beleza, a emoção me deixa,
Com vontade de chorar
Ah!

Itacambira é uma donzela,
Bela, idosa e formosa de encantar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.

BANDA DE MÚSICA
Em Itacambira, no ano de
1899, conta dona Concórdia
Luzia Ribeiro, que havia uma banda de música para animar as festas religiosas, sociais e cívicas de tempos em tempos. Nas suas notações encontramos os nomes dos seguintes músicos: Juca, Teófilo, Antônio Borges, Ezequias, Manoel Veloso, Arthur Campos, Tonico, Xisto, Alfredo Caldeira, Tonico Fernandes e Folô de Marcolina. Depois de um tempo estagnado, a banda de Música teve o apoio
do senhor Daniel Fonseca,
egresso da região de Cristália.

Delma Lúcia de Jesus

ITACAMBIRA

Delma Lúcia de Jesus

Nas asas leves dos sonhos
Nossa cidade percorremos.
Suas lendas, seus costumes,
Seus tesouros conhecemos.

Suas verdes florestas...
Que beleza de sonhar!
Escondem tantos segredos
Que o povo teima em contar.

É o rio Encantado?
Corre sereno para o mar...
Suas águas - que beleza!
Para os casais namorar.

Cidade pequena e dadivosa
É tão bela de natureza
Premiando a região
Com tanta e tanta beleza!

E que dizer das relíquias
Que aqui guardou o passado.
Sua Igreja, suas festas,
E o Santo Antônio consagrado.

Como esquecer as grandezas
Das serranias floridas?
É o viver sem alegria
Das serras coloridas!

Sempre sorri tão gentil
Essa gente hospitaleira.
É um retrato em cores vivas
Desta terra brasileira.

Salve cidade natal
Salve cidade do amor.
Fundada por Fernão Dias
Diamante encantador!

 

Maria Izabel Noronha

ITACAMBIRA, MINHA TERRA

Maria Izabel Noronha

Minha terra é grande e bela
Tem montes e serras mil
E nela que se tanto revela
As belezas do meu Brasil.

Minha terra tem perfumes
Que nem posso descrever.
E há milhões de vagalumes
Que a ilumina com prazer.

Minha terra é um encanto
Por muitos, desconhecida.
É um prazeroso recanto
Minha terra é minha vida!

SONETO PARA ITACAMBIRA

Dário Teixeira Cotrim

Ao longe, a serra Santana, altaneira,
Anunciava a expedição paulista,
De onde o brilho claro logo se avista,
Na descoberta da pedra primeira.

São as pedras verdes - disse o Figueira:
Belas turmalinas de uma conquista
De Fernão Dias, ao grupo miguelista,
Na ambição de uma luta sem fronteira.

Então, surge a pedra do meio do mato,
Co’a beleza incomum da macambira,
E o som estridente de um artefato...

Eureka! São as esmeraldas - suspira
O velho bandeirante estupefato!
São as pedras verdes do Itacambira!


Dário Teixeira Cotrim
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Dário Teixeira Cotrim escreveu um rosário de sonetos, intitulado “Gurungas”, sobre a história antiga de
municípios baianos e nortemineiros.
(veja biografia na
página 6, deste livro)
Nesta tela nós podemos observar a presença da Lenda do Vupabuçu (Iara), o índio da família dos botocudos, o garimpeiro à procura das esmeraldas, a figura ímpar do bandeirante Fernão Dias Pais, o artesanato do barro, a Serra Resplandecente, a Festa de Santo Antônio (padroeiro), a Festa do Divino Espírito Santo e ao centro a Igreja Matriz de Santo Antônio de Pádua. (Tela da artista plástica Nana Leão)

ARTE S PLÁSTICAS

A natural artes plásticas de Itacambira é muito bela! A questão, porém, não era e não é tão simplesmente de beleza, mas da existência inquestionável da beleza natural. Nesse caso, os artistas itacambirenses são uns privilegiados e, a sua pintura, em telas, objetos diversos e em panos, retrata com fidelidade as cenas históricas da cidade. É como se fosse uma via sacra em cada ponto do tempo em cada esquina do espaço.

OS ARTE SÃOS DE ITACAMBIRA

João de Deus - Trabalhos em pedras;
Édima Alves - Bordados em pano;
Júlio Maria de Oliveira - Trabalhos com sempre vivas;
Justino Meira - Trabalhos com sempre vivas;
Dimas Gomes - Trabalho com madeira;
Eliane Silva - Trabalhos manuais diversos;
Glória Bicalho - Artista Plástico;
Nana Leão - Artista Plástico.

TURISMO EM ITACAMBIRA

A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) tem definido que o coturismo é um “segmento de atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. Por isso, há quem afirme - o que não é improvável - que, com a descoberta das esmeraldas por Fernão Dias Pais, descobriram-se, também, a beleza e o encanto das serras resplandecentes e das águas do Encantado, Itacambiruçu, Macaúbas e Congonhas.

NA ROTA DO CONHECIMENTO

ITACAMBIRA tem o seu vasto território limitando-se com os municípios de Bocaiúva, Guaraciama, Botumirim, Juramento e Grão Mogol. Além de sua história antiga, que é rica

 
 

em acontecimentos, pode-se notar a beleza inconfundível do cerrado que envolve seus baixios e seus campos naturais dos alcantis das serras. Há diversos pontos que indicam a generosidade da natureza, onde as pessoas podem observar o encanto das montanhas, a quietude das piscinas naturais, o cantar ininterrupto dos rios e das belas cachoeiras e os atalhos que serpenteiam pelos barrancos. Também a solidão dos desenhos rupestres que envolvem as paredes pedregosas das inúmeras grutas que habitam nas serras. Na vastidão do Chapadão da Onça a vegetação rasteira é a predominante (o cerrado). Do mesmo modo isso acontece com o Chapadão do Burro Morto, onde flores silvestres, em multicores, florescem pelos campos ao sabor dos ventos uivantes. De qualquer modo, na beleza da floraé importante a apreciação dos casadinhos-pepalântus que enfeitam com singular boniteza as margens dos indolentes rios e os pedregulhos salpicados em volta das exuberantes cachoeiras. A Serra de Santana e a Serra Resplandecente são os exemplos de extrema importância para a cidade, entretanto, não menos importante é a Pedra de Itacambira que vem avultando, com rara beleza, aos olhos dos visitantes assim que eles chegam a poucos quilômetros da cidade. Ainda fazem parte desse conjunto de beleza, os campos de sempre-vivas nos caminhos para Macaúbas e nos alagados dos caminhos para o Curiango.

Itacambira: uma cidade que nasceu à sombra de uma pedra pontuda, no meio do mato, sem medo de ser feliz. Do alto da montanha, as poucas casas colmadas de palhas reverenciam, com ternura, o encontro das águas do Itacambiruçu. Ela é misteriosa!É fascinante! É fantástica! É Itacambira a esmeralda do grande sertão - veredas do norte-mineiro.

Legenda:

1 - Rio Encantado (cachoeiras, piscinas naturais) 4. Km

2 - Serra Resplandecente (das Esmeraldas de Fernão Dias) 4 km

3 - Pinturas Rupestres. 4 km + 2 km

4 - Grota da Senhora. 4 km + 3 km.

5 - Mirante de Santa Luzia. 12 km + 2 km.

6 - Fazenda Água Limpa. 6 km.

7 - Cachoeira da Boca da Serra. 1 km - Mirante

 

8 - Mirante do Gavião. 2 km

9 - Cascatinha do Macuco. 2 km

10 - Passagem do Curral. 4 km.

11 - Piscinas naturais de Água Preta. 10 km.

12 - Cachoeiras e Piscinas naturais de Mocozinho. 12 km.

13 - Rio Macaúba. (Piscinas Naturais) 23 km.

14 - Cachoeira do Curiango. 7 km.

15 - Cachoeira do Capão do Negro. 12 km.

16 - Cachoeira do Jacuba. 18 km.

17 - Encontro das águas do Itacambiruçu. 11 km

18 - Cachoeira de Jerobá. 13 km.


Lagoa do Vupabuçu

CAPÍTULO VIII
A LENDA DO VUPABUÇU E OUTRAS


A MÃE D’ÁGUA UIARA

A lenda de Uiara é conhecida em todo território brasileiro. Nos estudos realizados sobre a existência de Uiara ou Iara mostram que tudo aconteceu no Amazonas. Diz, ainda, a lenda, que antes de se tornar uma sereia, Uiara era uma belíssima índia. Ela se destacava entre as demais, por ser a mais bela, e consequentemente despertava a inveja de alguns da tribo, especialmente a de seus irmãos homens, que não se conformavam. O pai de Uiara era o pajé e a admirava em tudo o que ela fazia contribuindo ainda mais para a revolta de seus irmãos. Tomados pela inveja e pelo ciúme, os seus irmãos decidiram matá-la. Porém o esquema foi descoberto e ela, então, os mata para não morrer. O seu pai, para vingar a morte dos filhos ordena que

 
 

Uiara seja encontrada e morta. Assim aconteceu e ela foi encontrada e morta e jogada depois nas águas do rio Negro. Assim, o seu espirito esteve em todos os lugares, inclusive na Lagoa do Vupabuçu, em Itacambira - Minas Gerais.

Desde então Uiara permanecia nas águas da Lagoa do Vupabuçu atraindo os garimpeiros de maneira irresistível e os matando. Acredita-se que em cada fase da lua, Uiara aparecia com escamas diferentes e adorava deitar-se sobre bancos de areia nos rios para brincar com as pedrinhas verdes. Também de acordo com a lenda, era vista penteando seus longos cabelos com um pente de ouro, mirando-se no espelho das águas cristalinas.

Na versão do confrade Jorge Lasmar - no seu livro Grão Mogol - a lenda de Uiara, a mãe d’água rezava assim:

A mãe d’água (Uiara ou Iara) habitava as águas na lagoa do Vupabuçu. O seu canto seduzia os guerreiros. Nas noites em
que no céu vagava a lua cheia (cairê), Uiara subia à tona d’água e cantava. O seu canto era tão doce e suave que atraía os guerreiros. E a Uiara então estendia os braços para o guerreiro, e o guerreiro afundava no lago e não voltava mais. Nesse tempo os pataxós pediram ao deus da guerra (Macaxera) que salvasse os guerreiros. O deus da guerra mandou que Uiara dormisse, mas que os pataxós velassem o seu sono e sua vida. Os seus cabelos eram verdes do limo das águas, que borda o fundo dos lagos. E, muitos longos os seus cabelos entraram pela terra e, como eram d’água, em contato com a terra, viraram pedra. E o Macaxera disse: “A vida de Uiara está em seus cabelos. Um fio a menos será um dia de vida que se perca. Quem arrancar as pedras verdes terá arrancado o sono, ou a vida da mãe d’água. Os pataxós serão os guardadores do seu sono. E, se a Uiara acordar, ou morrer, uma grande desgraça pesará sobre vós!”

Segundo a lenda o bandeirante Fernão Dias não acreditava em lendas e nem em coisas do outro mundo. Catou as pedras
verdes que representavam os cabelos de Uiara. Hoje não temos mais a lenda da bela sereia Uiara. Pior, não temos também a encantada Lagoa do Vupabuçu, talvez esteja aí a desgraça anunciada por Macaxera. Entretanto, temos na memória os relatos dos faiscadores do ouro, os moços que um dia cederam aos encantos da tentadora sereia e morreram afogados de paixão.

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Iara s. f. (1886) 1 - ETN m. q. MÃE D’ÁGUA. 2 -
ETIM. Tupi Yara. “Senhora”; segundo a mitologia
indígena, sereia dos rios e dos lagos: mãe d’água. (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Editora Objetiva. Página 1559).

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(1) revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Marta Verônica
Vasconcelos Leite. Montes Claros. Editora Millennium/Cotrim. 2010. Página 124.

A LENDA DO SANTO ANTÔNIO APARECIDO

Cada comunidade tem a sua história para contar a respeito do seu padroeiro. Itacambira também tem a sua. Conta que certa vez, ainda na época de Fernão Dias Pais, foi construída uma pequenina capela ao lado da Lagoa do Vupabuçu para abrigar a milagrosa imagem de Santo Antônio. “Entretanto, todas as noites a imagem fugia, sendo reencontrada no dia seguinte no local de sua primeira aparição. Em face de tal insistência, o bandeirante aceitou trocar as proximidades da lagoa pela colina escolhida pelo santo, onde foi construída a Matriz, em torno da qual cresceu o povoado, hoje a cidade de Itacambira” (1). Nota-se que a imagem de Santo Antônio, o padroeiro de Itacambira, tem estilo barroco e certamente foi trazida de Portugal. A imagem de Santo Antônio segura uma cruz na mão direita e na mão esquerda ele sustenta um livro aberto onde o menino Jesus permanece em pé com os bracinhos esticados. Sabe-se que esta imagem do menino foi subtraída por algum devoto e depois recolocada no mesmo lugar.

O CRIME DE MALACACHETA

Conta dona Concórdia Luzia Ribeiro, em seu Caderno de Anotações, que certa vez ela foi passear na casa do Sr. José Muniz e ouviu dele uma interessante história sobre uma árvore, onde havia uma gaiola de ferro pendurada e dentro dela uma cabeça de um homem. Era a cabeça do “Assassino de Malacacheta” tendo por sua vítima uma menina-moça bela e inocente. Foi um crime praticado com requintes de crueldades. Naquelaépoca, expor ao público a cabeça de algum malfeitor era comum, para servir como exemplo as outras pessoas de que o crime não compensa. Dizia o Sr. José Muniz para dona Concórdia que “Certa vez, num domingo, quando os pais da menina-moça foram para o arraial assistir missa, eles deixaram-na sozinha em sua casa. Nisso apareceu um indivíduo com más intenções e a menina- moça então negou ceder-lhe a sua honra. Aí, ele a matou e cortou os seus seios. O assassino foi capturado ainda com um <pote> onde estavam pedaços dos seios da menina-moça, comendo-os. No local do crime sempre aconteciam os jogos de bola e se chamava Malacacheta. Tornou-se um lugar mal-assombrado. Todo mundo evitava em passar ali desde as seis da tarde e durante a noite. Com o passar dos anos, esse medo da população desapareceu. As árvores foram cortadas e enfim tudo se modificou”. Histórias como essas, de crimes hediondos, foram constantes nos tempos de antanho. Todas essas histórias fazem parte do folclore da cidade e enriquecem, sobremaneira, as tradições e os costumes do lugar.


Concórdia Luzia Ribeiro

Cópia do Caderno de Anotações de D. Concórdia Luzia Ribeiro, cedida por Maria Izabel Noronha.

Rei e Rainha: Francisco Bicalho Filho e sua esposa Edima Alves

CAPÍTULO IX
COSTUMES E TRADIÇÕES

A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Conta a história que a Festa do Divino Espírito Santo teve origem nas celebrações religiosas realizadas em Portugal no início do século XIV, nas quais a terceira pessoa da Santíssima
Trindade era festejada com banquetes coletivos e a distribuição de esmolas entre os pobres. Uma tradição, que ainda hoje acontece nas cidades brasileiras e também portuguesas. Nota-se que a tradição, desde o ano de 1321, quando sob a proteção da Rainha Santa Isabel, de Portugal e Aragão, teve inicio a celebração do Divino Espirito Santo, com promessa da rainha de peregrinar o mundo com uma cópia da coroa e uma pomba no alto da coroa, que é o símbolo do Divino Espírito Santo, tendo como objetivo as pazes entre o seu esposo, o rei D. Dinis, com o seu filho legítimo, D. Afonso, herdeiro do trono.

 
 
Essas celebrações passaram a acontecer cinquenta dias depois da Páscoa, quando se comemora o dia de Pentecostes. O Espírito Santo desceu do céu sobre a Virgem Maria e sobre os apóstolos de Cristo, sob a forma de línguas com o fogo como consta do Novo Testamento. É importante verificar que a tradição portuguesa encontrou terreno fértil para florescer em diversas partes do solo brasileiro. Em vista disso, em todo o Norte de Minas, em particular a cidade de Itacambira, as Festas do Divino Espírito Santo acontecem sob o entusiasmo alegórico do estandarte e da fé arrebatadora de um povo crente e temente a Deus! Portanto, é uma festa santa dedicada e cultuada ao Divino Espírito Santo. Também é uma das mais antigas manifestações religiosas difundidas e praticadas pelo catolicismo popular.

Zé Maria de Galdino e sua esposa D. Maria

FOLIA DE REIS

Também conta a história que a tradição das festas das Folias de Reis veio para o Brasil por volta do ano de 1534 e foi trazido pelos jesuítas portugueses e servindo como instrumento de catequização dos índios e, posteriormente dos escravos. As comemorações iniciam com o nascimento do Menino Jesus - 25 de dezembro - e encerram-se com a visitação dos Reis Magos - seis de janeiro - representados por Melchior, Baltasar e Gaspar. Não obstante terem sidos os portugueses os responsáveis pela introdução destes festejos no Brasil, ainda no período da colonização, sabe-se, entretanto, que eles têm origem na Espanha e aconteciam em toda Península Ibérica. As manifestações

 
 
natalinas ganharam força nas cidades interioranas. Este é o caso de Itacambira, onde o seu povo celebra com fé e participa com entusiasmo, das evoluções que as Folias de Reis proporcionam para o espírito e a alma.

Folia de Reis

Pedra da Ursa

CAPÍTULO X
CURIOSIDADES INTERESSANTES

O BATI ZADO DE DIADORIM

A história de Diadorim, no romance Grande Sertão – Veredas, de João Guimarães Rosa, revela que a cidade de Itacambira figurou nas idas e vindas do autor no imenso Norte de Minas. O mesmo não acontecendo com a cidade de Bocaiúva, fato este que entristeceu o ilustre historiador Antônio César Drummond Amorim. Numa pesquisa inédita “Diadorim pode ter vivido em Bocaiúva”, Drummond Amorim relata com muita propriedade, a possibilidade de Diadorim ter nascido na região de Itacambira, e deve ser por isso mesmo que ele (a) foi batizado (a) na Matriz de Santo Antônio de Pádua, desta cidade. Nota-se bem que, com relação ao batistério de Diadorim, o próprio escritor de Grande Sertão – Veredas, Guimarães Rosa,

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João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha)
Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais

conhecido por “seu Fulô” comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias. Guimarães Rosa escreveu o influente livro “Grande Sertão – Veredas”, onde relata o batizado de Diadorim.

denuncia que a página do acento batismal fora arrancada do livro, assim como está registrado no texto abaixo. Vejamos:

“Aonde fui, a um lugar, nos gerais de Lassance. Os-Porcos. Assim lá estivemos. A todos eu perguntei, em toda porta bati; triste pouco foi o que me resultaram. O que pensei encontrar: alguma velha, ou um velho, que da história soubessem – dela lembrados quando tinha sido menina – e então a razão rastraz de minhas coisas haviam de poder me expor, muito mundo. Isso não achamos. Rumamos daí então para bem longe reato: Juramento, o Peixe-Crú, Terra Branca e Capela, a Capelinha-do-Chumbo. Só um letreiro achei. Este papel, que eu trouxe – batistério. Da matriz


Pia batismal da Igreja de Santo Antônio, de Itacambira, onde foi batizado(a) Diadorim (Maria Deodorina da Fé Battancourt Marins). Personagem central do livro “Grande Sertão - Veredas”, de João Guimarães Rosa.

de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados. Lá ela foi levada bà pia. Lá registrada, assim. Em um 11 de setembro de 1800 e tantos... O senhor lê. De Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins – que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor... Reze o senhor por essa minha alma. O senhor acha que a vida é tristonha?” (Grande Sertão–Veredas – João Guimarães Rosa).

Difícil é entender o motivo desse ato impensado. Tudo pode nos levar a crer que se trata de uma história de ficção, sendo,
entretanto, improdutivo elaborar uma nova pesquisa nos livros da Igreja, à procura de outras informações. De qualquer
sorte, o fato relatado no romance de João Guimarães Rosa já
é o bastante para eternizar a cidade de Itacambira no cenário
literário brasileiro. Mas, por outro lado, o escritor Guimarães Rosa tinha consciência da existência dos cadáveres no porão da Igreja Matriz de Itacambira, tanto é vero que ele cita no mesmo texto que “da Matriz de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados”, numa alusão às múmias que ali se encontram há mais de uma centena de anos.

INTENDENTE CÂMARA

Manuel Ferreira da Câmara Bettencourt Aguiar e Sá (1) E (2), filho de Francisca Antônia Xavier de Bettencourt e Sá e do tenente Bernardino Rodrigues Cardoso, nasceu na região do Val, município de Grão Mogol, em Minas Gerais e foi batizado na Igreja de Santo Antônio de Itacambira, por volta de 1764. Um dos filhos mais ilustres do Norte de Minas. Ele estudou na Europa - Universidade de Coimbra - onde foi colega de José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Em 1790, pelo Decreto Lei de 17 de fevereiro de 1790, foi o escolhido


O Intendente Câmara nasceu, segundo a ficha escolar
fornecida pela Universidade de Coimbra, em Vila Nova
da Rainha de Caeté, freguesia de Nossa Senhora do
Bom Sucesso, capitania de Minas gerais, e foi batizado aos 23 dias do mês de julho de 1758, sendo padrinhos o
tenente João Furtado Leite e dona Coleta Rosa; mas a
certidão de batismo extraída a seu pedido em 1827 diz ter
sido batizado na Matriz de Santo Antônio de Itacambira,
comarca eclesiástica das Minas Novas do Araçuaí, aos 26 dias do mês de abril
de 1764, sendo padrinho o Reverendo Doutor Albano Pereira Coelho. Esta certidão foi passada no próprio requerimento de Câmara, quer, ao formulá-lo, declarou ser nascido e batizado
na referida Vila de Santo Antônio da Itacambira. Foram seus pais o Tenente Bernardino Rodrigues Cardoso e dona Francisca Antônia Xavier de Bitencourt e Sá.

pelo governo de sua Majestade para fazer uma viagem à Europa (Juntamente com José Bonifácio) com o objetivo de conhecer o progresso das ciências aplicáveis em Portugal. Tendo em vista o seu trabalho. O Intendente Câmara faleceu na cidade do Salvador, no dia 13 de dezembro de 1835.

PEDRA DA URSA

A natureza tem o poder de esculpir nas montanhas rochosas, as mais diversas formas de esculturas para a apreciação e o deleite das pessoas. A Pedra da Ursa, por exemplo, uma dádiva

natural para o povo de Itacambira, um privilégio sem precedentes que a mãe natureza, gentilmente, presenteou a comunidade de Itacambira e todo o Norte de Minas.

(1) Mário Martins de Freitas assinalou que o Intendente Câmara foi o construtor do primeiro forno para fundir ferro no Brasil. Isso aconteceu no ano de 1815, no Morro de Gaspar Soares, no Serro (MG).

 

 

 

 

 

(2) Joaquim Felício dos Santos nos informou que o Intendente Câmara foi o
primeiro brasileiro nomeado para o cargo de Intendente dos Diamantes, no Distrito Diamantino, no Tijuco, hoje cidade de Diamantina.

A NATURE ZA CAPRICHOSA

É muito interessante como a natureza é caprichosa nas coisas que ela faz em Itacambira. Aqui nesta foto, numa palmeira há uma casa de cupim dando sustentação para a construção das casas do pássaro joão-de-barro. Um edifício de cinco andares que causa admiração nas pessoas, pois a harmonia da natureza é impressionante neste caso: a velha palmeira, o bloco do cupim e as casas do joão-de-barro, três elementos de viva beleza que encantam a natureza da região. A lenda conta que a fêmea do joão-de-barro ajuda-o na construção do ninho, porém quando o macho percebe que a sua namorada tem um novo companheiro, ele tampa a abertura da casa fechando-a para sempre.

LA PA DO BUGRE

Os sítios arqueológicos do município de Itacambira, com pinturas rupestres que foram cadastrados e registrados pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional são em número de cinco. O Abrigo da Serra do Macuco e o Abrigo da Serra do Tuituberaba são os dois mais importantes. Temos ainda na Serra Resplandecente, outros três sítios, sobressaindo o da Lapa do Bugre que fica na encosta da referida serra.


Lapa do Bugre - Foto: Edvaldo Magalhães Filho

“Ao recuarmos ainda mais no passado, deparamo-nos
com uma expressiva arte parietal na Lapa do Bugre, um abrigo plantado num
afloramento de quartzito isolado da Serra Resplandecente
e a leste desta, sendo
o conjunto parte da Serra Geral” (O Homem na Pré
-História. Leonardo Alvares da Silva Campos. Belo
Horizonte. 1983. Página
191).

 

FOGO SIMBÓLICO

Dom Luís Victor Sartori (4º bispo de Montes Claros - 1952 a 1956). Foi também grande propulsor da fé e do progresso na cidade: reorganizou a Obra das Vocações Sacerdotais; instalou o Seminário Menor; apoiou a Ação Católica, bem como a criação da diocese de Januária; atuou juntos aos poderes públicos para a iluminação da cidade, por meio da
Para homenagear o grande feito de Fernão Dias Pais, o desbravador dos sertões norte-mineiros, o povo itacambirense, num gesto de carinho, amor e gratidão, organizou a mais importante maratona da história de Itacambira com a corrida do Fogo Simbólico até a cidade de Porto Alegre - Rio Grande do Sul. Tudo isso aconteceu sob a supervisão do eminente bispo de Montes Claros, Dom Luiz Victor Sartori. O tempo nos conta que, partindo da “famigerada” cidade de Itacambira, no dia 12 de agosto de 1954, o Fogo Simbólico percorreu o caminho palmilhado por Fernão Dias Pais, de volta a São Paulo até a fronteira com o Uruguai. Foi nos pampas gaúchos que o bandeirante paulista iniciava a sua peregrinação em busca do ouro e das pedras preciosas. Entretanto, ele retrocedeu esse caminho

e rumou para a Serra Resplandecente, de encontro com os socavões de Marcos de Azevedo, na esperança de realizar o sonho das esmeraldas.

Portanto, o Fogo Simbólico representa a arrojada atitude de ambição, intrepidez e coragem de um homem já senil e que resolve enfrentar os perigos iminentes, pelo sertão adentro, removendo com incrível estoicismo os grandes obstáculos que se opunham a sua marcha na procura das pedras verdes (as Esmeraldas), pedras essas existentes nas entranhas da Lagoa do Vupabuçu e que não passavam de simples turmalinas.

Companhia energética de Minas Gerais. Foi transferido
para a diocese de Santa Maria- RS.

 

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Observação: A palavras <famigerada> empregada
neste texto tem o significado de “muita fama, notável,
célebre, famígero”, conforme o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa, de Antônio Houaiss.

CAPÍTULO XI
REGISTROS POLÍTICOS

A INICIAÇÃO POLÍTICA

Há muito que o distrito de Itacambira já anunciava a sua condição de independência politica e econômica. Por se tratar de uma região ainda inexplorada na agropecuária, não obstante a exploração das riquezas das pedras verdes, tanto o rebanho bovino como a plantação do café necessitavam de maior cuidado dos seus governantes. Desse modo, a sua elevação à condição de cidade lhe possibilitaria palmilhar os caminhos do progresso, com vivas esperanças de um novo amanhecer.

Sabe-se que a exploração do ouro e dos diamantes muito pouco contribuiu para o desenvolvimento da vila de Itacambira. O “quinto do ouro” imposto devido à coroa ia para o governo e os lucros com a comercialização das riquezas ficavam

 
 

em poder dos forasteiros, que promoviam a evasão de divisas. Nada era aplicado em beneficio da população que já sofria com a invasão do “barbeiro”, causando-lhe a doença do coração – embora fosse uma doença desconhecida antes mesmo do médico sanitarista Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (1878-1934) anunciar a sua descoberta no final do século XIX.

Do ponto de vista político-econômico, Itacambira permaneceu inerte no tempo e, por muito tempo.

Enquanto isso, o aspecto físico do terreno era benevolente com os garimpeiros, por outro lado prejudicava a criação de currais de gado. O ciclo do ouro e do couro, que em certas regiões andavam de mãos dadas, aqui isso não acontecia. Nem mesmo a pequena agricultura de subsistência sobrevivia com a necessidade da ocasião. Apenas o plantio de café dava sinais de uma boa safra. O milho e a mandioca foram heranças dosíndios.

Por sua vez, o município de Grão Mogol centralizava a atenção do mercado do ouro e do diamante. Não muito distante, a vila do Tijuco (Diamantina) agia da mesma maneira, assim como a Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Fanado (Minas Novas). Nesse triângulo de caminhos e cruzamentos, Itacambira sucumbiu-se através dos tempos. Disse o historiador Vicente Tapajós que “a criação de gado foi uma das razões da penetração no interior e exerceu, na economia nacional, papel de importância, notadamente como meio de locomoção e de transporte”. Em razão disso, o sertanista Antônio Gonçalves Figueira tinha essa visão de comércio. Abriu a estrada até Pitangui, outra estrada até o Rio São Francisco e a Estrada Real da fazenda Brejo Grande – região de Grão Mogol – passando pela fazenda do São Romão até Tranqueira, na Chapada Diamantina – Bahia.

Agora, com o limiar de novos tempos, Itacambira sentiu a necessidade de andar com as próprias pernas. Libertou-se de Grão Mogol por Decreto Lei Nº 2764, de 30 de dezembro de 1963, num esforço gigantesco do seu filho Geraldo Maier Bicalho.
Todo processo de emancipação do município aconteceu de forma civilizada. Assim, no dia primeiro de março do ano seguinte foi instalado o município com a criação da Câmara Municipal e em seguida a eleição do primeiro mandatário da nova cidade. Antes, porém, na pessoa do servidor Lúcio Marcos Benquerer – indicado intendente – a cidade de Itacambira começava a dar os seus primeiros passos.

“Tive em Itacambira, como
intendente, em 1963, uma
experiência memorável.
Cursando Sociologia na
época, e naturalmente fascinado pelos ensinamentos
acadêmicos, tive a aventura
de testemunhar e viver, ainda que pelo curto período de seis meses, o encontro da teoria com a realidade político- social de nossa região e de Itacambira em particular.
Foi um período inesquecível
e de grande aprendizagem”.
(Depoimento de Lúcio
Mauro Benquerer cedido
por Maria Izabel Noronha)
 

INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITACAMBIRA
PREFEITURA MUNICIPAL DE ITACAMBIRA

ATA DA SESSÃO SOLENE DE INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITACAMBIRA

A primeiro de março de 1963, a partir das 11(onze) horas, no edifício destinado ao funcionamento da Prefeitura Municipal, realizou-se a sessão solene de instalação do Município de Itacambira, criado nos termos dos artigos da Lei nº 2.764, de 30 de dezembro de 1962. Declarando aberta a sessão o Sr. Intendente, após compor a mesa, proferiu, em voz clara e pausada, as seguintes palavras: “Em virtude dos poderes que me foram outorgados, declaro instalado o Município de Itacambira, com jurisdição sobre as circunscrições que têm por sede esta localidade, que ora recebe os foros de cidade, com a competência e atribuições que a lei confere e determina”. A seguir colocou franca a palavra, dela fazendo uso o jovem Milton Leão Coelho Filho, proferiu brilhante e entusiástica saudação ao povo itacambirano, afirmando em sua oração: “que estando convicto, o povo com a sua união, seu trabalho e seu desprendimento, faria desta terra histórica um município próspero”. A seguir, usou da palavra o senhor Intendente, saudando os presentes e concitando a todos os itacambiranos a cerrarem fileiras em prol do programa da jovem cidade. Afirmando que Itacambira, sendo uma cidade que surgia, poderia ser comparada a uma construção de um prédio e que cada um em particular, deveria contribuir com sua parcela de sacrifício, carregando um tijolo para essa construção. Frisou que estamos incrustados numa região subdesenvolvida e desamparada, vivendo uma grave conjuntura social, político e econômico, praticando uma política de bons costumes e de confiança no futuro. Ninguém mais fazendo uso da palavra, o senhor Intendente deu por encerrada a sessão de

que, para constar, eu Maria do Socorro Bicalho, funcionando como secretária ad-hoc, lavrei a presente ata e a li ao termo da sessão. Lúcio Marcos Bemquerer - Intendente.

 
 

GALERIA DOS PREFEITOS

A cidade de Itacambira foi criada pela Lei nº 2764, de 30 de dezembro de 1962 e a sua instalação, como município autônomo, ocorreu em primeiro de março de 1963. A emancipação de Itacambira teve a participação decisiva de Geraldo Maier Bicalho, que na época era prefeito da cidade de Grão Mogol. Depois de instalado o município, foi nomeado como seu intendente o jornalista Lúcio Marcos Benquerer, que esteve no comando das decisões políticas da cidade durante os meses de março a agosto de 1963. Com o impedimento de Geraldo Maier Bicalho, foi proclamado prefeito de Itacambira, seu vice -prefeito José Ferreira do Amaral, e em vista disso foi realizada nova eleição, somente para escolher o novo vice-prefeito, que teve o nome de Domício Santos Bicalho vitorioso nas urnas. Portanto, o primeiro prefeito de Itacambira, eleito pelo voto direto, foi José Ferreira do Amaral, que governou o município no período de 1963 a 1966.

Galeria dos Prefeitos

 
 

CÂMARA MUNICIPAL DE ITACAMBIRA

Os registros da composição do poder legislativo do município ficaram prejudicados, tendo em vista a inexistência de documentação para a comprovação das pesquisas necessárias, o que dificultou, sobremaneira, a nossa investida na coleta de dados e fatos sobre o assunto adrede proposto. Entretanto, foi possível o registro da formação da primeira Câmara de Vereadores, conforme documentação assinada por Oto Ribeiro e Silva e fornecida por Antônio Amaro Bicalho.

FORMAÇÃO DA PRIMEIRA CÂMARA MUNICIPAL DE ITACAMBIRA

PODER EXECUTIVO: 1963-1966
Prefeito: José Ferreira Amaral
Vice-prefeito: Domício Santos Bicalho

PODER LEGISLATI VO: 1963-1966
Maria do Socorro Bicalho
José Ferreira da Silva
Alfredo Antônio Oliveira
Maria Izabel Bicalho Noronha
Nelson Ferreira Oliveira
José Pedro dos Santos
Sadi Santos Bicalho
Davisdson Ferreira Leal
José Felizardo Bicalho

 

FORMAÇÃO ATUAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE ITACAMBIRA

PODER EXECUTIVO: 2013 - 2016
Prefeito: José Francisco Ferreira
Vice-prefeito: João Manoel Ribeiro

PODER LEGISLATI VO: 2013 - 2016
Presidente – José Leão Coelho Sobrinho
Vice-presidente – Pedro Henrique Barbosa
Antônio Júlio de Oliveira
Eder Fabricio Caetano Campos
Eliomar Cardoso Oliveira
Geraldo Claudinei Barbosa Soares
João Cardoso dos Santos
José Gilmar Ferreira
Sebastião Marcelo da Silva

PEQUENA BIOGRAFIA DE GERALDO MAIER BICALHO

Geraldo Maier Bicalho nasceu na cidade de Itacambira/MG, no dia 29 de julho de 1920. Ele era filho de Francisco Circuncisão Bicalho e de dona Maria do Rosário Bicalho. Casou-se com dona Ruth Matos Bicalho e tiveram 14 filhos. Foi prefeito das cidades de Grão Mogol e Itacambira. Batalhou incansavelmente para realizar a emancipação política e econômica de sua terra natal. Num preito de gratidão, foi erigido um marco na Praça da Matriz com os seguintes dizeres: “GERALDO MAIER BICALHO – HOMENAGEM A ESTE LÍDER POLÍTICO”, na administração de Mariano Augusto Barbosa. Geraldo Maier Bicalho faleceu em 22 de novembro de 1994.


Documentos antigos da Igreja de Itacambira

CAPÍTULO XII
ANOTA ÇÕES ANTIGAS

DOCUMENTOS DA IGREJA

No presente livro que contém noventa e oito folhas, serão
registradas as pessoas sepultadas no cemitério desta freguesia de Santo Antônio que foram por mim numeradas e rubricadas. Itacambira 10 de janeiro de 1899. Vigário José Francisco de Carvalho.

Este livro que tem cento noventa e oito folhas há de servir para (...) dos casados vai rubricado com a minha rubrica de Ferrª e para que se lhe dê maior crédito, uso e ponho a minha autoridade (...) judicial. Tocambira, maio de 1775.

 

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LIVRO para apontamentos de Batizados feitos na paróquia de Santo Antônio de Itacambira a começar no mês de junho de 1914. Serão neste mesmo livro lavrados os Termos dos Batizados que se fizerem nos anos 1915 e seguintes. Padre Callado.

FOLHA DE ROSTO DO TERMO DE ABERTURA
- Devidamente comissionado por Exmo. Sr. Bispo Diocesano, faço a abertura do presente livro que servirá para nele serem transcritos todos documentos respeitantesà Comarca Eclesiástica (ou Vigararia Foraneo) de Santo Antônio de Pádua, criada por Decreto Episcopal com data de 18 de outubro de 1915 e que vão por mim numerada e rubricada com a rubrica que uso “Pe. Callado” Itacambira, (sede da Vigararia) aos 10 de novembro de 1915. Padre Manoel Francisco Callado. Vigário Foraneo.

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OBS: Nota-se que neste documento foi colocado como sendo Paróquia de Santo
Antônio de Pádua. Aliás, há muitos documentos nos livros da Coleção do Tombo da Igreja, com esta denominação: Santo Antônio de Pádua.

FAC-SIMILE - DOCUMENTO Nº 1 DA IGREJA DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA
Dom João Antônio Pimenta, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo Diocesano de Montes Claros, etc... Fazemos saber que concorrendo na pessoa do Ver. Sr. Padre Manoel Francisco Callado, as qualidades requeridas para o bom desempenho da vigararia da Vara, havemos por bem nomeá-lo como pela presente o nomeamos para exercer o dito cargo, por três anos, na comarca eclesiástica de Santo Antônio de Pádua, para o que lhe concedemos todos os poderes e faculdades
constantes do “Regimento dos Vigários Foraneos” desta diocese, fazendo lhe uma remesse do dito Regimento. Dando-lhe esta prova de nossa confiança, esperamos que o Vigário Foraneo, digo, Vigário da Vara, por nós assim nomeado e depu

Alfarrábios da Igreja de
Santo Antônio de Pádua de Itacambira - Minas Gerais

tado, saberá empreender o dever que lhe incumbe de zelar por sua pessoa, pelo
mais escrupuloso e exemplar procedimento, a autoridade que lhe delegamos e que, no exercício desta autoridade se portará com zelo, moderação e prudência, como convém ao serviço de Deus e ao Nosso.
Tenha sempre em vista que, entre outras obrigações do cargo que lhe é conferido, saberá a de velar, com solicitude, para que as determinações e conselhos da Pastoral coletiva sejam postas em prática, como é de dever
em sua comarca; para o que concorrerá de modo...

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OBS; Também neste documento foi registrado o nome de Santo Antônio de Pádua.

AGRADECIMENTOS


Ao concluir este modesto trabalho sobre a história de Itacambira, solicitamos dos distintos leitores as desculpas pelas deficiências e pelos problemas que o enfeiam. Os senões e os deslizes gráficos também podem ocorrer e, quanto ao conteúdo, seria de lastimar muito mais, não fosse a providencial colaboração de Antônio Neto da Silva, Ilma Ramalho Ferreira, Vanusa Alves da Costa Ramalho, Wanderlino Arruda e Antônio Amaro Bicalho, na doação dos mais variados documentos e de sucessivos depoimentos sobre a trajetória da comunidade. Pessoas essas a quem reiteramos mais de uma vez, a expressão sincera do nosso profundo agradecimento.


“Sit finis libri, non finis quaerendi”

BIBLIOGRAFIA
FONTES DE PESQUISAS E CRÉDITOS
DAS FOTOGRAFIAS

LIVROS

BARBOSA. Waldemar de Almeida – Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte. Itatiaia. 1995.

BELMONTE. Benedito Bastos Barreto – No Tempo dos Bandeirantes. São Paulo. 4ª Ed. Melhoramentos.

BILAC. Olavo – O Caçador de Esmeraldas. Poesias. São Paulo. Ediouro. 1978.

CALMON. Pedro – História do Brasil. 7 volumes. Rio de Janeiro.
Livraria José Olympio Editora. 1971.

CAMPOS. Leonardo Álvares da Silva – O Homem na Pré-História. Belo Horizonte. Imprensa Oficial. 1983.

CARDIM. Padre Fernão – Tratados da Terra e Gente do Brasil. São Paulo. Ed. Nacional. 1978.

COSTA. Antônio Gilberto – Os Caminhos do Ouro e a Estrada Real. Belo Horizonte. Editora UFMG. 2005.

COTRIM. Dário Teixeira – Ensaio Histórico do Distrito de Serra Nova, Município de Rio Pardo de Minas. Rio Pardo de Minas. 2000.

COTRIM. Dário Teixeira – História Primitiva de Montes Claros. Montes Claros. Unimontes. 2002.

COTRIM. Dário Teixeira – Sinalações Rupestres. Montes Claros. A Sinneta. 2005.

DIAS. Gonçalves – Dicionário da Língua Tupi (Chamada Língua Geral dos Indígenas do Brasil). 1ª edição 1858 e 2ª edição 1970. Rio de Janeiro. Livraria São José. 1970.

DURÃES. Narciso Silva – Olhos de Itacambira. Poesia. Belo Horizonte. Arte Quintal. 1986.

FAGUNDES. Giselle e MARTINS. Nahílson. Capítulos Sertanejos. Montes Claros. Formato. 2002.

FERREIRA. Delson Gonçalves – O Aleijadinho. Belo Horizonte. Trona Editora. 2001.

FREIRE. Felisbello – História Territorial do Brazil. 1º e 2º volumes. Salvador. Instituto geográfico e Histórico da Bahia. 1998.

FREITAS. Mário Martins – Grão Mogol: de Portugal a Portugal. Romance. Rio de Janeiro. 1940.

HOLANDA. Sérgio Buarque de – Raízes do Brasil. São Paulo. Companhia das Letras. 1995.

LASMAR. Jorge e VASQUES. Terezinha – Grão Mogol. Belo Horizonte. Santa Clara Editora. 2005.

MARTINS. Nahílson e FAGUNDES. Giselle - Capítulos Sertanejos. Montes Claros. Formato. 2002.

MILIET de Saint-Adolphe. J. O. R - Diccionário Geográphico Histórico e Descriptivo do Império do Brazil. 1845.

PAULA. Hermes Augusto de. Montes Claros sua História, sua Gente e seus Costumes. 3 volumes. Montes Claros. Ed. Unimontes. 2007.

PIRES. Simeão Ribeiro – Raízes de Minas. Montes Claros. 1979. Páginas 71/75.

PIRES. Simeão Ribeiro – Serra Geral: Diamantes, Garimpeiros e Escravos. Belo Horizonte. Cuatiara. 1999.

ROSA. João Guimarães – Grande Sertão: Veredas. Romance. Nova Fronteira. 1979.

SALVADOR. Frei Vicente do – História do Brasil 1500 – 1627. Belo Horizonte. Itatiaia. 1982 (Livraria Amadeu)

SAMPAIO. Teodoro Fernandes – Vocabulário Geográfico Brasileiro. (cópia xerox).

SANTOS. Délio Freitas dos – Câmara Municipal de São Paulo. (oferta do vereador Aurelino Soares de Andrade) 1998.

SANTOS. Márcio – Estradas Reais. Belo Horizonte. Editora Estrada Real. 2001.

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SPIX. Johann Baptist von – Viagem Pelo Brasil (1817 – 1820). Volume 2. Belo Horizonte. Itatiaia. 1981.

TAPAJÓS. Vicente – História do Brasil. São Paulo. Companhia Editora Nacional. 1965.

VASCONCELOS. Diogo de – História Antiga de Minas Gerais. V 1 e 2. Rio de Janeiro. Imprensa Nacional. 1948.

VASQUES. Terezinha e LASMAR. Jorge – Grão Mogol. Belo Horizonte. Santa Clara Editora. 2005.

VIANNA. Urbino - Bandeiras e Sertanistas Baianos. São Paulo.
Companhia Editorial Nacional. 1935.

PANFLETOS
Festa de Santo Antônio e do Divino. Arquidiocese de Montes Claros. Paroquia Santo Antônio. Itacambira – MG. 2008. VII Festa Cultural Itacambira. Prefeitura Municipal de Itacambira. 2013.

DOCUMENTOS
Carta do Padre José Ozanan
Cópia da Carta de D. João Antônio Pimenta – Bispo de Montes
Claros – MG.
Documentos fornecidos pela Câmara Municipal de Itacambira (Lucídio)

REVISTA
Revista Acaiaca. Belo Horizonte. Agosto de 1953.

JORNAIS
Diário de Montes Claros. Montes Claros, quarta-feira, 31 de maio de 1978. Miguel Domingues, fundador de Montes Claros. Leonardo Campos.

Diário de Minas. Belo Horizonte. 12 de Agosto de 1956.

Hoje em Dia. Prefeitura Busca Apoio para Construir Casa da
Cultura e Reconstruir os Esqueletos. Fernando Zuba.

Hoje em Dia. Município à caça de R$ 1 milhão para salvar Igreja. Girleno Alencar.

Informativo Paroquial. Ano I – nº 1 – outubro de 2008. Padre Honório Andrade

Informativo Pastoral – Comunidade São José. Município de Itacambira. Setembro de 2008. 3ª edição. Padre Honório Andrade.

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